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Mostrando postagens de julho, 2021

Habilidades

  Os últimos tempos têm sido de grande aprendizado e desenvolvimento de novas habilidades (isso não é obrigatoriamente algo positivo). Teve gente que aprendeu a propagar fake news com maestria (e atualmente de brinde propaga vírus). Tem quem aprendeu a refutar a ciência com base em sua própria opinião. Sim, eu sei, isso é bizarro e de uma prepotência chocante. Algumas pessoas aperfeiçoaram o “foda-se” em relação aos outros. Tiveram os que aprenderam a criar o próprio fermento e fazer o próprio pão de fermentação natural. Professores tiveram que aprender a ensinar de outra forma. Aprendemos tudo sobre um vírus e maneiras de nos proteger dele. Desenvolvemos a habilidade de ficar perto mesmo longe. Hoje sabemos nomes de laboratório de vacinas e há quem tenha preferência por alguns, por mais estranho que pareça. Eu, assim como todo mundo, também tive que aprender coisas novas e desenvolver habilidades, algumas que eu até preferia não ter. Por exemplo, adoraria não ter aprendido a exp

Menina pode?

  Bom dia Sociedade Machista! Dia desses minha filha mais velha fez um trabalho do colégio sobre danças folclóricas. Estudaram variadas danças de diferentes regiões do país, inclusive do Rio Grande do Sul. Nas danças dos pagos de cá surgiu a chula. Viram um videozinho explicativo de como era a dança e de quem podia dançar: só os meninos. Após o vídeo tinha uma pergunta para responder (a escola dela segue com estudos remotos): Você acha que as meninas também podem dançar chula? Explique sua resposta. Minha pequena prontamente respondeu: Sim, porque as meninas podem fazer o que elas quiserem! Assim, com ponto de exclamação para deixar bem clara sua indignação. Eis que depois que ela postou sua resposta começamos a ver as respostas dos coleguinhas. Metade da turma tinha respondido, umas dez crianças. A maioria dizia lindamente mais ou menos o que minha pequena tinha dito com algumas variações. Adorei a resposta de um dos meninos: Sim, menina pode fazer o que quiser, mas acho melhor nã

Algumas horas dentro da minha cabeça

  Acordei! Respiro sem dificuldades, estou viva. Ninguém me chamou durante a noite. Será que elas estão vivas? Agora me lembrei que me chamaram sim, mas como foi só umas três vezes meio que esqueci. Tô de mochila? Ah não, ela passou para minha cama. Levanto? Que vontade de ficar mais um pouco aqui, nem tocou o despertador. Melhor levantar e ir me adiantando. Tem que tirar o lixo, mas também dá pra ficar mais um pouco. Aiiiii por que eu tenho esse toque no despertador?Sim, porque fui assaltada e não troquei o toque desde que comprei o celular novo. Preciso parar e ver onde muda. Não é uma prioridade. Prioridade é fazer xixi e acordar minha pequena maior. Vou perguntar pra ela o que ela quer de café da manhã. Bingo, acertei, o de sempre! Credo mal acordei e já descubro tudo isso desse Brasil? Putaqueopariu o que é isso? Ninguém vai fazer nada? Esse desclassificado vai continuar fazendo esse monte de barbaridade? O ovo! Quase queimei. Anotar na lista do super: ovo. Anotar na lista da far

Vacinada no pandemônio

  Essa semana chegou o dia que eu mais esperei desde o início da pandemia. Finalmente tomei a primeira dose da vacina contra covid 19. Por muitos meses pensei que esse momento nunca fosse chegar. Tentei me alegrar com a ilusão de que sou “jovem e saudável”, por isso a vacina parecia algo tão distante. Embora saibamos que a demora se dê por um plano sinistro de um governo completamente incapaz, de caráter, no mínimo, duvidoso. A contragosto da vontade estatal federal, o meu dia chegou! Torci baixinho (com medo de ser confundida com sommelier de vacina) para receber a Janssen, por ser só uma dose. Já tinha marcado com uma grande amiga da vida inteira (literalmente porque nos conhecemos desde que nascemos e ela nasceu um dia antes de mim) para irmos juntas em um posto de saúde perto da minha casa que não costuma ter grandes filas. Assim juntas tomaríamos a primeira dose da chance de convivermos mais uns 40 anos, pelo menos, uma com a outra. Lá fomos nós, animadíssimas! Chegamos e a fi

Ajuda para chorar

  Tem dias que até a mais bem humorada das pessoas, a mais positiva, aquela que é quase representante oficial da positividade tóxica, que sempre tá procurando o lado bom das coisas, precisa chorar. Não é nem que queira, não é nem que tenha, mas precisa. Precisa chorar porque a vida no Brasil não tá nada fácil. É difícil fazer planos de curto ou longo prazo. A pandemia não é fácil, a pandemia como forma de extermínio dói, a misoginia em discurso oficial machuca, as notícias dão uma raiva danada, ter um governo que ameaça, que tenta se impor pelo medo é horrível, mas nem choca mais. Fora isso todo mundo tem as mil encrencas pessoais cotidianas que são só suas, mas por vezes parece que elas se reúnem todas ao mesmo tempo e incomodam: um pneu careca que precisa ser trocado; um celular roubado; um vizinho que também não tá bem, enchendo o saco; as goteiras que não se consertam sozinhas e custam uma fortuna pra arrumar; o esgotamento de gerir todo mundo dentro de casa por quase um ano e