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Mostrando postagens de abril, 2022

Let it go

  Depois de dois anos entrei em um salão de beleza para fazer as unhas. Roo unhas desde criança e começava temer ter que amputar as pontas dos dedos, tal era a situação calamitosa que minhas falanges se encontravam. O salão estava vazio e uma simpática manicure que eu nunca tinha visto na vida me atendeu. Passado alguns minutos que ela tinha começado minha unha, uma outra cliente chegou. Uma moça de beleza toda certinha, cabelos longos progressivamente escovados e alinhados, com extensão de cílios em dia, levemente maquiada, roupa toda combinadinha, devia ter uns 30 anos e pela recepção das pessoas que trabalhavam no local, era habitué. As manicures comentaram que, durante o final de semana, tinham visto ela acompanhada pelo seu “príncipe” no café que fica na frente do salão. Comecei a ficar inquieta na cadeira, pensando onde o príncipe estacionava o cavalo. A moça sentou e começou a fazer a unha. Elas seguiam conversando animadamente, ela contando que semana que vem já ia visitar

Adeus ao meu sofá

Meu sofá teve falência múltipla das espumas. Não posso me dizer surpresa, ele já vinha dando sinais de sua debilidade. Já veio para nós de segunda mão. Resistiu bravamente a tanto! Duas gatas e nenhum arranhão, graças à canfora que eu lhe aplicava de tempos em tempos. Uma cachorra fedorenta que quando chovia se refugiava nele. Resistiu até a covid, mas não resistiu a nós durante a pandemia. Três adultos, horas e horas com suas bundas nos mesmos lugares. Duas crianças usando ele como um pula pula, ainda que tivessem um pula pula de verdade. Foi demais para sua já avançada idade. Sem querer ser clichê, nem pretensiosa, mas já sendo, esta é uma crônica de uma morte anunciada. Só quem já fez um orçamento com um estofador, sabe como é doloroso dar adeus ao sofá e concluir que, economicamente falando, para uma família com o orçamento justo, vale mais a pena produzir lixo  para as tartarugas se enroscarem do que recolocar espuma em um móvel mais antigo. Ainda que a consciência ambiental fique

Tradições de páscoa

  Ninguém conta isso, mas, na verdade, o coelhinho da páscoa é um traficante de drogas pesadas e caras. Quem pensa que o pipoqueiro que fica na frente da escola pode ser um atravessador para levar droga as crianças, não se deu conta que muito antes disso a sua própria casa já foi invadida por aquele cidadão de pelo branquinho, de olhos vermelhos (sim, olhos vermelhos já dizem muito sobre ele) levando quilos e quilos de uma droga lícita, o chocolate. Chocolate, assim como a maioria das drogas, não é um problema a não ser quando consumida em excesso. Então, esse meliante, o coelhinho da páscoa, chega no final de um feriado e entrega para nossas crianças toda a droga paga por mães, pais, avós, dindas, dindos, tias e tios, amigas e amigos. Sim, obviamente que ele não trabalha de graça, é claramente um neoliberal que opera com a pata de pelo macio invisível do mercado que explora pessoas bem próximas à criança. É tão bom no que faz, que jamais é visto, mas sua fama é grande. Tá ali, ali

Pinguim se mudou para Porto Alegre

  Há muitos imóveis à venda no bairro onde moro. Na verdade, estão para qualquer negócio. Há placas para venda e aluguel aos montes. Umas das casas nessas condições me chamava a atenção por ser de esquina e não ter grade em volta. Quem mora no Brasil, quase não entende o conceito de casa que não seja cercada. Depois de mais de cinco anos a tal casa foi vendida. Um dia enquanto estava com as minhas filhas na pracinha vi de longe o novo morador saindo de lá. Um senhor que embora não usasse cartola e guarda-chuva, parecia o Pinguim, arqui-inimigo do Batman. Caminhava igual, com os pés dez para as duas, era baixo, barrigudo, tal qual um pinguim. Será que o Pinguim teria se mudado de Gotham City para Porto Alegre? Por um lado seria até bom, isso explicaria em parte os altos índices de criminalidade da cidade, em especial na periferia, agora seria só emitir o batsinal e esperar o Batman chegar para acabar com a guerra do tráfico que assola a capital gaúcha. Naquele dia que eu avistei o

Esperança um medicamento de uso contínuo

  Leio que o ministro da educação é o novo pior ministro da história do país. Favorecia pastores. Há indícios de corrupção. Não fico surpresa. Parece esse ser o novo normal de um país completamente anormal. Às vezes o chorume desse governo escorre de forma tão corrente que faz a gente perder a capacidade de se indignar com o inaceitável. Nada de novo no front. Começa o Lollapalooza. Nunca me liguei no festival. É longe, a inflação e a economia doméstica não permitem considerar a possibilidade de participar de algo assim. Primeiro dia tem Pabllo Vittar, eu leio em algum lugar. Não é o tipo de música que eu costumeiramente ouça. Algumas horas depois às redes sociais bombam com Pabllo correndo com a toalha estampada com a foto de Lula. Reconheço a toalha. Não era a mesma que há pouco tempo um banhista levantou atrás de uma reportagem da Globo em alguma praia carioca? Me animo! Queria eu estar no show da Pabllo nessa hora. Queria eu estar no Lollapalooza nesse momento. Queria eu ter