Ajuda para chorar

 

Tem dias que até a mais bem humorada das pessoas, a mais positiva, aquela que é quase representante oficial da positividade tóxica, que sempre tá procurando o lado bom das coisas, precisa chorar. Não é nem que queira, não é nem que tenha, mas precisa.

Precisa chorar porque a vida no Brasil não tá nada fácil. É difícil fazer planos de curto ou longo prazo. A pandemia não é fácil, a pandemia como forma de extermínio dói, a misoginia em discurso oficial machuca, as notícias dão uma raiva danada, ter um governo que ameaça, que tenta se impor pelo medo é horrível, mas nem choca mais. Fora isso todo mundo tem as mil encrencas pessoais cotidianas que são só suas, mas por vezes parece que elas se reúnem todas ao mesmo tempo e incomodam: um pneu careca que precisa ser trocado; um celular roubado; um vizinho que também não tá bem, enchendo o saco; as goteiras que não se consertam sozinhas e custam uma fortuna pra arrumar; o esgotamento de gerir todo mundo dentro de casa por quase um ano e meio; a vontade de ficar grudada nas crianças até ter certeza que tá tudo bem, misturada com a vontade de abanar pra elas subindo na van escolar.

Nessas horas tudo que a gente precisa para chorar é uma desculpa. Depois da primeira lágrima não dá mais para parar até tirar o parelelípedo que colocaram em cima do nosso peito, até que se esvazie o mundo de pensamento que não param de se mexer dentro da cabeça. Tudo sai como um dilúvio. O difícil é deixar sair a primeira lágrima, parece que a distância entre o nó da garganta até o olho é quilométrica, mas nesses momentos ( e em todos outros da vida) a arte salva.

Quando eu preciso de auxílio pra chorar, conheço alguns filmes que ajudam muito. “Uma lição de amor” é sempre muito eficiente, descobri recentemente “Trupe Zero”, outra boa dica é “Cazuza - O tempo não para”. Esse último eu vi no cinema e meu marido achou melhor a gente esperar a sala esvaziar e eu parar de soluçar para ir embora tal era meu estado ao acabar o filme. Essa semana eu precisava muito chorar e quem me ajudou foi a Isabel Allende, que tanto já me fez rir e chorar por escrito, me fez chorar com a minissérie "Isabel" .

Obrigada, "Isabel", eu estava precisando!


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