Vacinada no pandemônio

 

Essa semana chegou o dia que eu mais esperei desde o início da pandemia. Finalmente tomei a primeira dose da vacina contra covid 19. Por muitos meses pensei que esse momento nunca fosse chegar. Tentei me alegrar com a ilusão de que sou “jovem e saudável”, por isso a vacina parecia algo tão distante. Embora saibamos que a demora se dê por um plano sinistro de um governo completamente incapaz, de caráter, no mínimo, duvidoso.

A contragosto da vontade estatal federal, o meu dia chegou! Torci baixinho (com medo de ser confundida com sommelier de vacina) para receber a Janssen, por ser só uma dose. Já tinha marcado com uma grande amiga da vida inteira (literalmente porque nos conhecemos desde que nascemos e ela nasceu um dia antes de mim) para irmos juntas em um posto de saúde perto da minha casa que não costuma ter grandes filas. Assim juntas tomaríamos a primeira dose da chance de convivermos mais uns 40 anos, pelo menos, uma com a outra. Lá fomos nós, animadíssimas! Chegamos e a fila tinha um tamanho bom. Confesso que se a fila tivesse 100 quilômetros ainda assim eu acharia bom, dado a conjuntura do que vivemos. Tudo é uma questão de perspectiva.

Mascaradas e com devido distanciamento, conversamos frente a frente como há muito tempo não fazíamos. Há chances de que fossemos as mais animadas da fila. De forma geral somos sempre animadas, imagina pra tomar a vacina?!

Depois de uns 40 minutos estava na nossa vez. A moça que aplicava a vacina não parecia muito satisfeita com a nossa animação, nossas risadas e nossas inúmeras fotos, mas nós não estávamos nem aí. Se ela tá acostumada a aplicar muitas doses em muitas de pessoas, minha mãe me ensinou que eu não sou todo mundo e eu estava me achando super especial. Nem o mau humor da moça, nem ela reclamando que a minha amiga tinha mexido o braço, nem o fato de termos recebido uma vacina que é de duas doses com três meses de intervalo entre uma e outra ( diga-se de passagem se fossem 5 doses com injeção na testa eu ia achar ótimo) abalou nossa animação.

Quando voltávamos para casa comentamos que ter conseguido chegar até a vacina no Brasil é um grande feito. Obviamente que o privilégio de poder ficar guardadinhas em casa nos ajudou muito, mas a sensação de ser vacinada (ainda que só a primeira dose) é sem igual. Um sentimento de que o governo tentou me matar, mas não conseguiu, que embora a vida de um brasileiro não valha nem um dólar aos olhos de quem nos desgoverna, eu to aqui de pé, firme e forte pronta para incomodar, brigar e gritar por escrito que é a maneira que encontro para me opor e me manter sã nesse pandemônio.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fica bem 2023

A pontezinha do Sakae's

Rituais de final de ano