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Mostrando postagens de novembro, 2020

Criança vem com sensor de movimento

  Quando eu estava grávida da minha primeira filha uma amiga que pretendia ter o segundo filho me disse: - Não sei como as pessoas fazem o segundo filho. Eu, inocentemente, perguntei: - Por que? É muito caro? Ela me olhou com uma cara de quem me achava uma iludida e respondeu: -Não, porque sempre que a gente tá tendo um momento mais íntimo tem um choro, um “mãnheeeee!”, ou algo do gênero. Achei que era exagero. Pensei que ela e o marido passavam por uma fase meio estranha, afinal quem não passa e ainda por cima estavam culpando aquele anjinho que o filho dela era. Aquela carinha tão linda não devia ser tão intrometida. Aqueles risinhos de bebê, aquela bunda de fralda, aquelas coxinhas. Não, definitivamente, ele não era um enxerido. Tive minha primeira filha e cheguei a conclusão que quando as crianças nascem, instalam nelas um chip com sensor de movimento dos pais. Cada vez que os pais estão a menos de 35 cm de distância um do outro o sensor avisa e elas automaticamente

Política é assunto de criança

     Eu tinha 9 anos, era agosto ou setembro de 1989, nos aproximávamos das eleições presidenciais. Na minha casa não se falava em outra coisa. Todos pareciam ansiosos, animados, mas apreensivos. Me lembro até hoje o voto dos mais próximos. Minha avó e minha dinda votavam no Lula. Minha mãe no Roberto Freire (desculpa mãe, por revelar isso). Meu pai no Mário Covas (não preciso pedir desculpa, porque os dois já morreram).      Era uma atmosfera muito interessante. O meu “voto” oscilava entre esses candidatos, mas incluía o Ulisses porque eu não tinha avô e achava ele com cara de vovô. Minha dinda ligava para falar comigo e me perguntava:      - Pra quem vai teu voto hoje?      E eu respondia, justificava meus argumentos e me sentia a pessoa mais importante do mundo. Me incomodava o fato de não ter uma menina para colocar entre minhas possibilidades do voto (na verdade tinha uma candidata, mas com pouca expressividade). Uma vez comentei isso com a minha vó e ela me contou que

Deu match!

Tem uma pracinha na frente da minha casa. Depois de muitos meses sem ir lá combinamos que voltaríamos a frequentar aquele espaço com algumas condições. Iríamos em dias de semana porque tem menos gente, em horários sem movimento e que não podia ir no parquinho (ninguém me convence que um balanço de parquinho seja seguro na atualidade, sempre imagino uma criança ranhenta espirrando, limpando com a mão e segurando no balanço). Desde então quando chega no meio da tarde eu fico, à la Janela Indiscreta sem binóculo, cuidando, se não tem gente ou se tem quase ninguém, vamos. As meninas pegam suas bicicletas, colocamos nossas máscaras e praticamente saímos para um safari. Nossa gata, Petit Gateau, costuma nos acompanhar nos passeios. Sai atrás da gente e fica nos espiando entre as árvores. Em uma das primeiras vezes que fomos tinha uma família saindo. Todos sem máscara. O que já me fez mirá-los com maus olhos. A mãe da família olhou para minha filha menor e viu que ela usava uma máscara

Compras na pandemia

  Sempre gostei de ir ao supermercado, mas desde que começou a pandemia eu parei de ir. Na verdade eu gosto de ir sozinha, com calma e com dinheiro, coisas que há muito não acontecem. Pelo menos não assim, todas juntas. Nem sei se em algum momento isso realmente aconteceu ou é uma memória idealizada de um passado longínquo. O meu novo normal (às vezes acho mais adequado chamar de constante anormal) inclui, entre minhas inúmeras atividades, fazer pedidos para supermercados do bairro onde moro. Nem um deles são grandes redes. São pequenos supermercados, com preços bons e que não cobram pela entrega. Passo minhas listas por whatsapp ou e-mail bem detalhadas com marca, quantidade, o mais preciso possível. Nenhum dos dois estabelecimentos que utilizo tinha esse serviço antes da pandemia o que torna tudo mais interessante. A pessoa que faz as compras para mim lá, não me conhece, não tem a menor noção dos meus hábitos de consumo (a essa altura do campeonato, talvez já tenha) e da mesma