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Mostrando postagens de agosto, 2023

Simpatia e algo mais

  Sete horas da manhã é o horário que eu abro o portão da minha casa e me posiciono na calçada junto com a minha filha mais velha para esperar a van e despachar o corpinho amado para o colégio. Ali ficamos uns cinco minutos esperando o veículo e conversando. Nas segundas e quartas quando abrimos o portão aproveitamos para colocar o lixo seco na rua. Há o caminhão oficial da prefeitura que passa mais tarde, mas também tem, desde a madrugada, a coleta extra oficial feita pelos catadores. Às vezes o recolhimento da prefeitura até falha, mas os catadores jamais. Onde moro passam vários, todos muito simpáticos, aliás esse é assunto para outro texto: a simpatia dos lixeiros. Pessoal que vive em uma sociedade super preconceituosa, disfarçadamente organizada em castas, na qual sua profissão está entre as consideradas “de menor prestígio” e que tá sempre sorrindo. Nunca vi lixeiro mau humorado! Enfim, entre os catadores da redondeza tem um casal que sempre me chama a atenção. Ele carrega um

A pontezinha do Sakae's

  Não sei se os amantes do sushi com menos de trinta e cinco anos sabem, mas em uma Porto Alegre remota da década de oitenta, n a época que telefone de discar era sinal de status, carro a álcool no inverno precisava ligar meia hora antes de querer sair e as crianças podiam andar na cachorreira dos automóveis, não tinha um restaurante japonês em cada esquina da pequenópolis . Na verdade tinha um único restaurante japonês que havia inaugurado no meio da década de 70, o Sakae’s comandado pela Sakae, uma japonesa vinda de Nagóia . Era um restaurante que as pessoas cultas, intelectualizadas, mais moderninhas, ou como se dizia na época, prafrentex frequentavam . Muito porto-alegrense conservador torcia o nariz para a s iguaria s orientais recém-chegadas . Meu pai era todo metido a gourmet, por anos escreveu críticas gastronômicas para alguns jornais da cidade sob o pseudônimo de M.E. Sailland, e u m dos seus grande s divertimentos e investimentos era me tornar desde muito cedo

Que mulher era Deise!

  Depois de uma gata de estimação, não mais tão estimada, fazer xixi no modem e me obrigar a mentir para a empresa de internet e TV que o aparelho havia queimado devido a uma descarga elétrica, ainda que o odor de urina entranhado no eletrônico teimasse em me denunciar, contei com a compreensão de um técnico gateiro que fez vista grossa e gentilmente trocou o aparelho sem fazer muitos questionamentos além de perguntar se tínhamos gatinhos. O problema do modem foi resolvido. Na euforia de voltar a estar conectados com o mundo só reparamos dias depois que a nossa TV não era mais a mesma. O aplicativo da Disney não funcionava direito e só quem tem crianças em casa sabe a tragédia do home office sem a companhia das princesas, da Minnie e da Bluey. Liguei novamente para a empresa que presta o serviço, expliquei que desde que o técnico havia trocado o modem o aplicativo não funcionava mais. O moço que me atendeu me tratou como normalmente os atendentes de call center atendem as pessoas

Ralo da inutilidade

  A pessoa tá cheia de coisa p a ra fazer, porque quem não tá cheia de coisas pra fazer não tá vivendo nessa dimensão do lado de cá da humanidade, inclusive por favor, entidade superior, nos ensin e como chega nesse lado daí, porque esse de cá tá bastante atribulado . M ilhares de coisas passando na cabeça. R epassando as trocentas coisas que t em pra fazer no dia seguinte . Lembrando dos emails e mensagem não respondido , dos ovos não compr ados , da latinha de milho vazia não enviada para a escola, d o s boletos não pag o s . Fazendo conta de quantas horas faltam pro despertador tocar, afinal é isso que o ansioso faz, tem síndrome do p eru, morre de véspera, sofre pelo que virá. Enquanto tudo isso passa pela cabeça da criatura ela assist e a um vídeo de um bolo lindamente decorado, sendo desdecorado para ser redecorad o . Quase um minuto de vídeo e se faz um a pausa n o engalfinhado de pensamentos dentro da cabeça e em um momento de lucidez único vem o questionamento :