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Mostrando postagens de fevereiro, 2022

Três amigas e uma calcinha viajante

  Há um tempo uma amiga esqueceu uma calcinha aqui em casa. Sim, eu sei, dizer que alguém esqueceu a calcinha na sua casa pode parecer estranho, mas considerando o número de sutiãs que já perdi pela vida sem envolver nenhuma situação maliciosa e pés de meia que somem dentro da própria casa, acho até bem ok a pessoa esquecer a calcinha. No dia do abandono da underwear, tínhamos tomado banho de piscina e na troca de roupa de banho, roupa de rua, sobrou a peça íntima. Como boa amiga que sou, coloquei a calcinha pra lavar antes de devolver. Eis que passaram-se semanas e eu nunca mais lembrei de devolvê-la. Fiquei menstruada, com cólica, dor de cabeça, abri a porta do armário e me deparei com a calcinha molinha, já amaciada por outra bunda, pronta para ser usada. Revirei mais um pouco a caixa das minhas calcinhas na esperança de encontrar outra com cara de tão confortável como aquela, mas não encontrei. Quando a gente é criança aprende que não se pega emprestado escova de dente, nem cal

Volta às aulas

  As aulas estão voltando e este é um grande desafio para crianças e pais que viveram a pandemia, sim porque sabemos que para alguns o covid nunca existiu, ou foi só uma gripezinha. (Pausa dramática para náuseas de desprezo). Durante todo esse período a educação e o papel da escola esteve muito em debate. Fazendo o retorno das minhas filhas nos últimos dias ainda há um tanto de coisas que me deixam desconfortável, embora eu considere que é o melhor a fazer nesse momento. Um fato que desde o início do debate “suspende aula, volta aula” tem me incomodado é a questão da educação privada. Parece que com a pandemia ficou muito claro que isso é um modelo de negócio, onde crianças são cifrões ao final de um mês. Criança jamais deveria ser número, deveria ser indivíduo, mas para a educação privada eles são o quê acima de tudo paga as contas. Alguém pode me dizer, mas isso é óbvio. Concordo, mas até a crise sanitária pela qual passamos, talvez, não fosse assim tão escrachadamente assumido e

Ájnamei

  Qualquer pessoa que já tentou fazer uma criança dormir sabe que ela até pode ter passado o dia muda (o que é bastante raro), mas é chegada a hora de ir pra cama e todas as perguntas do mundo virão à tona. A cria chega do colégio, do passeio, da festinha ou mesmo você para de trabalhar e pergunta: Como foi seu dia? Logo vem uma resposta evasiva: Legal. Daí você insiste: Mas o que teve de bom ou de ruim? Há grandes chances da resposta ser: Nada de mais. Toma, banho, janta e continua não tendo nada demais. Deitou na cama e começa a chuva de perguntas e comentários existenciais no modo aleatório. Mãe, como se diz Iemanjá de trás pra frente? Você já parou pra pensar que somos um grãozinho de areia no meio de um universo inteiro? Quantos dias faltam para o fim das férias? A Transilvânia é perto de onde? Você gosta de ter duas filhas? O que é tipo sanguíneo? Não aguento mais a onda de calor! O que é onda de calor? Você não tá com saudade de viajar de avião? Eu vi uma reportagem que as or

Mãe de gente

  Agatha, uma mulher hipotética, que podia ser você ou eu, tinha dois filhos. Quando seu filho mais velho, João, completou um ano de idade, ela virou estatística e foi demitida da empresa onde trabalhava. Procurou outro emprego, fez mil seleções, mas não era chamada para nada. Quando João completou dois anos ela engravidou de Antonia, pensou que assim, com seu sonho materno realizado, e ela podendo declarar publicamente que não pretendia ter mais filhos, sua chance de retomar sua carreira seria maior. No entanto, as coisas não pareciam assim tão simples. João já estava com quase cinco anos e Antônia com dois e nada de Agatha conseguir retomar sua vida profissional. Perdeu mais de uma chance de trabalho por precisar ficar em casa por algum dos dois estarem doentes, ainda que nessas ocasiões ela trabalhasse de casa mesmo. Acreditando que seria mais fácil, ela resolveu voltar a trabalhar como freelancer como fazia no início de sua carreira, muito antes de ter as crianças. Assim, con