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Mostrando postagens de junho, 2021

Panela de Pressão

  Não sei se é coisa de brasileiro, mas por aqui todo mundo tem medo de panela de pressão.Quando a gente é criança sempre ouve de algum adulto “cuidado com a panela de pressão”. Quando começamos a aprender a cozinhar dá uma sensação de c* na mão quando tem que usar a maldita panela. Tem muita gente experiente na cozinha que até hoje não usa porque acha muito perigoso. Todo mundo tem uma história trágica da mãe, do primo, da vizinha que teve queimaduras horríveis de terceiro grau por causa de uma panela que explodiu. Tratamos a panela de pressão como uma bomba caseira e acidental, o que não é totalmente distante da realidade (talvez a parte do acidental, seja). Uma época fiz um curso de gastronomia e descobri que a panela de pressão só explode se a válvula estiver obstruída e gerar tanta, tanta pressão, sem conseguir liberar o ar que tem dentro. Essa descoberta melhorou muito minha relação com esse utensílio. Hoje diria que tenho até certo apreço por ele. Coloco o que for pra coz

A vida desaparece em um mergulho

  O dia ensolarado convidava para um passeio. Decidiu caminhar. Colocou a máscara, pegou o celular e saiu. Caminhou até a orla do lago poluído. O contato com a natureza, ainda que estragada pela mão humana, lhe era prazeroso. Não resistiu aos encantos da paisagem. Começou a caminhar por cima das pedras que adentravam a água suja. Buscava o melhor ângulo para uma foto. Dependendo da maneira que fotografasse apareceria só a sujeira. Queria um enquadramento que lhe permitisse hashtags como #paraiso #natureza. O esforço de pular de pedra em pedra parecia valer a pena. Ali já não passava mais ninguém. Não havia barulho, só o bater da água suja, com restos de animais mortos, penas, por vezes, garrafas e latinhas. Pulou para a pedra que parecia perfeita, mas pisou mal e escorregou em uma parte com limo. Não deu tempo de nada. Em um décimo de segundo viu sua vida ser atirada abruptamente para dentro do lago sujo e profundo. Aos poucos sua voz não era mais ouvida, talvez seus últimos diz

Ensino Domiciliar

  Quase dezesseis meses de pandemia. Sigo saudável, me contrapondo aos esforços federais. Nos últimos tempos descobri muita coisa sobre a vida. A minha vida. A vida dos outros. Sei mais do que eu queria. Sobre os outros e sobre mim. Talvez o que tenha me causado mais impacto (fora o básico: desgoverno, genocídio, descaso e etcs) tenha sido o homeschooling, ou ensino domiciliar. Nessa caminhada, incerta e nebulosa, com minhas filhas aprendi que gritar e chorar (com a criança ou sozinha no banheiro, já testei as duas opções) não são ferramentas didáticas. Descobri que procrastinar é uma atividade inerente ao ser humano. Nascemos procrastinando e ao longo da vida aprendemos (ou não) a não enrolar para fazer as coisas. Se a pessoa tiver que escrever uma redação, ela não o fará antes de cortar uma borracha em 16 pedacinhos, pintar os dezesseis pedacinhos de várias cores, picotar papel, desenhar toda a mesa de trabalho e só fará a redação sob ameaça de perder o celular. Outra coisa

Momento histórico

  O coisinha bem desgastante essa de passar por momento histórico, hein? Momento histórico parece uma matrioska (aquelas bonequinhas russas que têm uma dentro da outra, dentro da outra, dentro da outra....). Viver a era da internet por si só já é um momento histórico. A rapidez e quantidade de informação que recebemos é absurda. Quando que há quarenta anos atrás pensaríamos em experienciar isso? Na década de 80 tínhamos telefones de discar e a linha custava uma fortuna, quem (ser humano comum, prosaico) imaginaria um smartphone? Um pouco antes da pandemia levei minha filha mais velha, então com 8 anos, a um museu e mostrei um telefone daqueles. Contei o que era aquele aparelho, ela olhou pra mim como quem olha para o museu em pessoa e disse abismada: "Sério? Mas como isso funcionava?". Quando que naquela época imaginaríamos não ir ao banco? Alguém imaginava que banca de jornal seria total old school ? Aqui em casa quando tem trabalho de escola das crianças e mandam rec