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Mostrando postagens de junho, 2023

Ali mora um folhetim

  Eu acho muito interessante o conceito da pessoa que nasce, cresce, vive e morre no mesmo lugar. Eu nem falo de cidade, eu falo de bairro ou casa mesmo. Um tempo atrás conheci uma moça no meu bairro, que nasceu a duas ruas de distâncias da rua onde moro, estudou na escola que fica há duas quadras da minha casa, casou com um colega de colégio que também morava no bairro, eles moram na casa que ela sempre morou, tem duas filhas que estudam no colégio que eles estudaram, ambos sempre trabalharam no bairro, e ela me confidenciou que não imaginava morar em outro lugar. Eu, sem compreender o conceito, perguntei se em outra cidade e ela me disse que não conseguia se ver vivendo fora do bairro mesmo. Cabe aqui uma observação: a região da cidade que moramos é pequena e distante do centro. Conforme conversávamos fui descobrindo que assim como ela, existem outros vários dela. Boa parte da vizinhança, daquelas pessoas que eu por nove anos pensava que estavam apenas vivendo ali, vivem o s e

O brinquedinho era pequeno demais

  O que dizer sobre os moços, meio velhos, mas tem um moço no meio, que ingressaram em um submersível comandado por joystick, pra ver o Titanic e se perderam no mar? Dá pra dizer nada e dá pra dizer muito, tipo aquela frase: nem vou falar nada! Mas não vou resistir e vou falar assim mesmo. A pessoa tem tanto dinheiro, que não sabe o que fazer com ele, então faz merda. Acha que pode tudo, inventa uma diversão completamente desnecessária e com toques macabro, turismo necrófilo. Um lado meu, que eu nem chamaria de obscuro, porque ele tá aqui bem aflorado nesse momento acha a história um tantinho engraçada. Confesso que quando li que o diretor de segurança da tal OceanGate foi demitido porque disse insistentemente que o vidro do brinquedinho de mergulhar não era adequado para a profundidade que eles queriam atingir, dei uma risadinha e segui o dia. Cada vez que lia que lá est avam cinco homens brancos, de meia idade, trilhardários, ficando sem ar porque acharam legal correr o risco

Um dia de Croods

  O vento zunia, a chuva não parava. No fim da noite as luzes apagaram. O ciclone tinha chegado, é raro, mas acontece com frequência A casa parecia que ia levantar voo, ainda bem que é a casa depois da reforma, antes da reforma talvez ela tivesse realmente levantado voo. Dormi, não dormindo porque por mais que a gente saiba que está em um lugar seguro os barulhos da tempestade não são agradáveis, os olhos desacostumaram da escuridão completa. É estranho não ter nenhuma luzinha do aparelho de televisão ligada, nenhum celular dando uma piscadela. O dia amanhece, temos certeza que em nossa fortaleza nada aconteceu. Vou no banheiro e instintivamente aperto o interruptor da luz que não liga, pra me lembrar que não tem energia. Então, vem aquela necessidade de passar um café pra começar o dia, coloco o pó e a água e me dou conta que a cafeteira é elétrica. Decido mandar mensagem para a companhia de energia para saber a previsão de retorno. Não tem sinal no celular. Saio na rua de r

Motoboy Schrödinger

  Precisamos falar sobre o entregador de comida por aplicativo. Uma profissão tão desvalorizada e tão necessária para a sanidade da mãe contemporânea. Chega sexta feira a noite, quando tudo o que poderia dar errado, deu errado ou deu certo, mas deu trabalho, e o que a pessoa mais quer é não fazer comida, sentar em seu cômodo sofá com um cálice de vinho, deixar que as coisas aconteçam naturalmente. Isso envolve pedir uma pizza e ensinar as crianças a comerem com guardanapo pra não ter que lavar prato. É o mais saudável? Não. É o mais indicado? Não. Mas é o que tínhamos para aquele momento e não é sempre também, porque pedir pizza se tornou artigo de luxo nos últimos anos. Pizza pedida, é só aguardar a buzina da moto dali 50 minutos. Ou não. Transcorrido o tempo estimado, as crianças já começam a encher o saco porque estão com fome e cansadas, o vinho já começa a bater, os reflexos ficam mais lentos e é nessa hora que instala-se a experiência mental conhecida como M otoboy de S chrö

Um vício chamado grupo comigo mesma

  Lembro como se fosse ontem quando aprendi a criar no whatsapp um grupo comigo mesma (talvez, tenha realmente sido ontem). Foi uma revolução na minha vida. O batizei de “eu, Irene e eu mesma”, em homenagem a comédia com Jim Carrey e a Renée Zellweger. Eu sei que mudei a ordem do título, mas nunca corrigi. Acho que fiquei com vergonha do pessoal (eu, Irene e eu mesma), perceber a babaquice. Naqueles idos tempos de poucos anos atrás, nunca imaginei que eu tivesse tanto assunto comigo mesma. É um tal de fazer lista de supermercado, mandar links interessantes, enviar coisas para ler depois, rascunhar textos, muitas funções. Me lembro que eu achei tão fantástico que logo ensinei minha mãe a fazer grupo com ela mesma e ensinava todo mundo que me contava que não tinha um grupo pra chamar de só seu. Foi nessa época que descobri a importância de falar sozinha por escrito. Logo depois que ensinei minha mãe a ter um grupo com ela mesma, a véia viciou e começou a criar vários. Ela criava