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Mostrando postagens de março, 2024

Nunca acaba

  Uma onda de calor assenta sobre a cidade e minha cabeça. Porto Alegre, também conhecida como Forno Alegre, que sim é um forno no verão, alegre eu diria que já foi mais. Eu que não vim na vida perder tempo decidi honrar com o compromisso de levar minha filha mais moça na consulta com oftalmologista que já tava marcada há tempos. Ok, eu até perco bastante tempo, mas conseguir consulta com oftalmologista pediátrico está entre os maiores desafios da maternidade. O consultório ficava no centro da cidade. Como às vezes trabalho por lá, peguei aquela coisa fofa que chamo de filha e levei para passar o dia sentindo muito calor. Caminhando, porque no centro não vale a pena andar de carro, até o horário da consulta. Paramos o carro umas quatro quadras do prédio que era nosso primeiro destino. Além de trabalhar, eu ainda precisava buscar um negócio pro meu marido, levei ela pra almoçar e fomos a um museu. Fiz aquelas coxinhas roliças de seis anos caminharem, destilarem. Aquelas bochechinhas p

Gratidão

  De tempos em tempos surgem modismos linguísticos. Não são gírias, palavras inventadas ou com conotações diferentes, são simplesmente palavras que já estavam por aí circulando, mas que por algum motivo qualquer passam a ser usadas à exaustão. Não necessariamente de forma correta. Não necessariamente com discernimento de quem as profere. Às vezes elas são originárias da língua portuguesa, às vezes são surrupiadas do inglês. É praticamente um rebrand (rebrand tá na moda) de algo que já existia. Já tivemos o momento histórico do famigerado pleonasmo "um plus a mais". De uns tempos pra cá todo mundo precisa ter nichos em casa pra colocar seus badulaques. Tem moda pra tudo, pra roupa, pra comida (quem ainda lembra do mamão cassis), porque não teria na linguagem? Podia não ter, mas tem.   Nesse momento eu escrevo e cerro meus lábios num semi sorriso tentando fingir que lido bem com isso. Recentemente na tendência yoga de vida entrou na moda o "gratidão". Eu como uma

Caminho sinuoso

  Na vida um dia a gente é jovem e no outro tá falando: Olha que maluco o barulho que faz o meu joelho! E assim acende a luz no cérebro indicando que o equipamento tá ficando deteriorado pelo uso (ou mau uso). A lataria pode tá bem conservada, sem maiores avarias, aquela carinha de 42 com 43, mas não adianta, o material interno começa a dar sinais de desgaste. Vamos e venhamos, o corpinho foi concebido antes da internet, naquela época que o telefone era de discar e a tv era de tubo (quando eu falo dessas coisas minhas filhas me imaginam nascendo em uma caverna).   Quando o joelho passa a ter som é natural bater uma bad, afinal a gente vem ao mundo pronto para trilhar um caminho, não pra medir o quanto andou e o quanto ainda tem pra andar, até porque o objetivo utópico é justamente não chegar ao fim do percurso. Além do mais vivemos em uma sociedade que gosta muito de enaltecer a arrancada e não a beleza que há na caminhada sinuosa. O meu joelho começou a fazer um barulho estranho em