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Mostrando postagens de outubro, 2020

A diva e a super-heroína

  Moram comigo duas atrizes mirim. Uma é diva, é dramática, capaz de transformar qualquer coisa em uma novela mexicana. Briga comigo olhando para o espelho para garantir que está se saindo bem. Qualquer coisa pode virar um choro escandaloso e sofrido. Às vezes acho que ela funciona como uma sirene. A outra é mais voltada para a comédia, extrai risadas de todo mundo, muitas vezes só suas caras e bocas são suficientes para nos levar ao riso. Tem dias que ela assume um lado mais maligno e dá risadas típicas de bruxa antes de fazer algo que não devia. Outros dias vira super-heroína e só quer voar. Elas não sabem, mas se complementam lindamente. Ás vezes são meio Tom e Jerry, outras Catatau e Zé Colméia e, sem dúvida, tem seus momentos Pink e Cérebro. Esses dias a super-heroína colocou sua capa e começou a correr pela casa entoando um “ta na tananna tanatannnanamna",que remetia a música do super-homem, com braço erguido. A diva não estava na vibe e nem olhou. Foi chamada pela supe

O abraço do carboidrato

  Eu tinha 4 ou 5 anos quando meu pai infartou a primeira vez. Primeiro contato mais próximo com a morte, com perder alguém querido. Podia ter sido com um gato, um cachorro, mas não, logo o pai. Me lembro de perguntar para minha mãe se ele ia morrer e ela com toda a honestidade e sutileza, que só quem a conhece sabe que ela é capaz de ter, responder: - Não sei, mas pode ser que sim. A honestidade materna sempre foi uma virtude, sempre me preparou para o pior. Tinha que tomar injeção ou pontos e eu perguntava: -Vai doer? E ela respondia: -Vai. Nesse primeiro infarto do meu pai descobri muitas coisas além da honestidade da minha mãe. Descobri que somos mortais. Descobri que um fumante sem cigarro pode ser alguém muito chato e descobri que não devíamos comer dois amidos ao mesmo tempo. Eu do alto dos meus 5 anos e do recente conhecimento adquirido dizia para quem quisesse ouvir: -Não se come dois amidos na mesma refeição. Não se como arroz com massa, batata com arroz

Pandemia que segue

  O coronavírus pegou um Brasil dividido e de forma alguma o unificou, bem pelo contrário. Definitivamente não seremos lembrados pela nação que seu uniu contra o vírus. Aliás, união por aqui atualmente só é conhecida como marca de açúcar e assim mesmo o consumidor opta pela concorrência que é mais barato. O que deveria ser questão sanitária, virou questão política. Quando o assunto é medida de proteção em relação ao vírus temos três grandes blocos com enormes olhos críticos. De um lado estão os coronavírusplanista. Aquele pessoal todo que não acredita no vírus, ou acha que ele é só uma gripezinha. Andam sem máscara, desprezam álcool gel e quase abraçam as pessoas que nem conhecem na rua só para deixar bem clara sua posição. Dizem aos quatro ventos que apesar do suposto vírus a vida segue (estranho falar a vida segue, quando o que parece seguir é a morte). Frequentemente taxam de neuróticos aqueles que não querem convívio físico com quem não faz o distanciamento social. Sentem-se a

Ensinamentos mútuos

  Dia desses tivemos um incidente aqui em casa considerado economicamente grave. Imprevistos não são bem-vindos em uma recessão econômica como a que vivemos no país. Eu e m inha filha de três anos estávamos na sala. Ela assistia tranquilamente (ao menos eu pensava isso) à “ P rincesinha S ofia” na TV , enquanto eu arrumava uns papéis e m uma mesinha . Ela tinha na mão sua varinha de condão de estimação, rosa com uma estrela brilhosa na ponta. Vi que no desenho havia uma bruxa má fazendo alguma maldade qualquer, mas não prestei atenção. Em dado momento a bruxa começou a soltar raios e nfeitiçados de sua varinha contra os heróis do desenho. Nesse momento minha coisinha fofa começou a ficar mais inquieta. Segui arrumando a mesinha e ouvi uma batida, sem olhar eu disse: Não bate na TV que estraga. Acabei de dizer isso e meu marido entrou na sal a. P álido, tr ê mul o , quase cambaleante ele disse: Ela quebrou a T V ! Larguei os papéis e olhei para a TV . De fato aquela coisinha fofa

Quando o sono bate

  Ganhei de aniversário uma mi band (aqueles reloginhos que medem tudo: passos, calorias, distância percorrida, frequência cardíaca). Amei! Tenho relógio o que eu adoro, não gosto de olhar as horas no celular. Humilho todo mundo aqui em casa com os vários mil passos que dou, sem contar a quilometragem é claro. Isso tudo só olhando para o pulso e liberando minhas informações para o mundo. Uma coisa muito louca que a mi band me fez mensurar foi o tão pouco que durmo. É melhor nem falar em números, para não assustar. Sono profundo, então, é bem mais escasso do que profundo. Deve fazer uns 8 anos e meio (idade da minha filha mais velha) que eu não sei o que é dormir uma noite inteira. Para a gente ver como o amor de mãe é uma coisa bem doida. Não bastava uma sem me deixar dormir direito e eu quis ter outra. Elas me expoem a privação de sono há mais de 8 anos e eu ainda assim as amo incondicionalmente. O pior (ou melhor, não sei bem) é que eu sempre adorei dormir e durmo com facilidad