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Mostrando postagens de abril, 2021

Rasa como um pires

  Desde 23 de maio de 2016, quando eu acordo tenho um pensamento recorrente, uma esperança. Abro os olhos e vem a minha mente “Tomara que eu tenha ficado tão rasa quanto um pires ou que tudo tenha sido um pesadelo”. Na verdade eu penso “tomara que eu tenha amanhecido burra”, mas não sejamos presunçosa, deixemos o rasa que é mais gentil (com os outros não comigo mesma). Começa o dia. Eu acordo as crianças. Faço café. Nos sentamos na mesa, eu com uma xícara quentinha nas mãos começo a ler as notícias. Pronto! A esperança foi embora, não fiquei mais rasa de um dia para o outro. A vida seria tão mais fácil se eu tivesse a profundidade de um espelho d’água com menos de 1 mm de espessura. Imagina que tranquilo e simples: Ter a certeza que quando dizem “só 0,01% das crianças desenvolvem covid grave”, as minhas crianças não pertencem aos 0,01%. Entender que na pandemia no Brasil está tudo bem ter que optar entre morrer de fome e morrer de covid, como se não houvesse alter

Babá eletrônica

  Antes da pandemia eu era ferrenhamente contra dar um celular para uma criança, mas como tudo o que a gente ferrenhamente julga outras mães, ferrenhamente se volta contra nós mesmos. Veio a pandemia e eu descobri que acabava perdendo meu celular para minha filha mais velha, então com 8 anos. Ela pedia emprestado para jogar, para falar com as amigas e eu cedia, cedia e acabava ficando sem o bendito aparelho. Resultado: cheguei a conclusão que tudo bem ela ter um celular dela. Demos um celular velho com bateria viciada, que assim ela não fica grudada demais, e sem chip para não ter tantos recursos. Passou um mês da pandemia e a vida com as amigas se resumia ao whatsapp, o meu whatsapp. Concluí que um chip também não era tão grave. Providenciamos um chip e desde então ela é uma menina de celular, que fala com as amigas por ali, joga e fica alguns momentos do dia lá no seu mundinho. Sendo honesta em algumas ocasiões, pra mim é ótimo. Tá brigando loucamente com a irmã, vai pro teu ce

Sinta-se à vontade Dona Morte

  Há algo que venho me perguntando faz um tempo: O que leva as pessoas a se aglomerar durante uma pandemia que tem matado mais de três mil pessoas diariamente somente em nosso país? Sendo que uma das principais recomendações para frear as mortes é justamente não se juntar em grupos. Tenho levantado algumas hipóteses para que essa recomendação não venha sendo seguida. A primeira é que a imensa maioria do povo brasileiro não entende o significado de aglomeração ( essa ideia mantém minha fé nas pessoas). Quando os profissionais da saúde falam em não aglomerar, não se referem a ir a um show com cem mil pessoas. Aliás, se buscarmos o termo no dicionário a primeira coisa que aparece é: ato ou efeito de juntar(-se), misturar(-se), aglomerar(-se); aglomerado. Ou seja, para efeitos pandêmicos aglomera é juntar/misturar pessoas que não tem um convívio obrigatório diário. Minha segunda hipótese é que temos muitos concidadãos com problemas de memória (prefiro não acreditar ou não verbalizar

De faltas e saudades

  Lá se foi um ano de pandemia. No Brasil as coisas só pioram, não dão sinais de melhora e não parece haver interesse em uma melhora. A vida de muita gente mudou nesse período, mas não a vida de gente suficiente para contornar o problema que vivemos. Há uma clara dificuldade de compreensão do sentido de coletividade. Parece que as pessoas são capazes de viver sozinhas no mundo sem mais ninguém, como se não dependêssemos uns dos outros para seguir em frente. Tudo bem que tem pessoas que dá vontade de deletar do mundo, mas não temos botão de delete e nem cabe a nós decidir os “deletáveis” do universo (ainda que possamos fazê-los desaparecer de nossas mentes, como mero exercícios criativo). Ao longo desse mais de um ano, quem foi capaz de adaptar a vida se privou de muita coisa, descobriu outras tantas e desenvolveu um novo contato com o seu interior. Fomos obrigados a olhar para dentro, conviver com o nosso eu e fazer mil balanços. Até nós, mães de seres não adultos, que somos as pess

Exames anuais

  Apesar do coronavírus. Apesar de estar na cidade retratada na primeira página do New York Times como um dos piores lugares da pandemia nesse momento. Apesar de ter nascido e viver no país com um dos maiores índices de letalidade por covid 19. Apesar dos pesares, fui fazer meus exames anuais. Fazer os exames é uma grande exposição, tanto às pessoas quanto ao vírus. No entanto, acho adequado dar atenção aos profissionais da saúde que estão aí nos alertando para tantas coisas, inclusive para que não descuidemos dos outros aspectos da nossa saúde. Para quem desconhece quais são os exames que uma mulher faz anualmente depois dos quarenta anos detalho alguns aqui: exames de sangue, mamografia, ecografia mamária e ecografia transvaginal. Os exames de sangue são ok, o tradicional agulha no braço e era isso. A mamografia consiste basicamente em espalhar o peito entre duas chapas acrílicas e apertar, apertar, apertar, apertar, apertar, apertar, apertar. Quem não tem peito grande o su