Ensinamentos mútuos

 

Dia desses tivemos um incidente aqui em casa considerado economicamente grave. Imprevistos não são bem-vindos em uma recessão econômica como a que vivemos no país.

Eu e minha filha de três anos estávamos na sala. Ela assistia tranquilamente (ao menos eu pensava isso) à “Princesinha Sofia” na TV, enquanto eu arrumava uns papéis em uma mesinha. Ela tinha na mão sua varinha de condão de estimação, rosa com uma estrela brilhosa na ponta. Vi que no desenho havia uma bruxa má fazendo alguma maldade qualquer, mas não prestei atenção. Em dado momento a bruxa começou a soltar raios enfeitiçados de sua varinha contra os heróis do desenho. Nesse momento minha coisinha fofa começou a ficar mais inquieta. Segui arrumando a mesinha e ouvi uma batida, sem olhar eu disse: Não bate na TV que estraga. Acabei de dizer isso e meu marido entrou na sala. Pálido, trêmulo, quase cambaleante ele disse: Ela quebrou a TV! Larguei os papéis e olhei para a TV. De fato aquela coisinha fofa tinha feito um furo com a varinha no meio da tela de uma Smart TV de 50 polegadas.

O choque foi tão grande que não brigamos com ela, só dissemos algo como: Tu quebrou a TV! E ela automaticamente começou a chorar sem parar. Eu quase chorei junto só de lembrar o preço de uma TV, mas mantive a compostura. Meu marido sentou no sofá desolado e ficou olhando para a TV com um buraco no meio metade da tela preta e a outra metade com meia bruxa má.

Quando nossa pequena se acalmou (nós não nos acalmamos até hoje, mas somos discretos) olhava para TV e dizia pra mim: arruma mamãe! Olha minha filha aí está uma grande lição da vida tem coisas que nem mãe arruma, tem cagadas que a gente dá que não tem conserto.

No dia seguinte perguntamos pra ela o que tinha acontecido com a TV. Um pouco relutante em falar do assunto ela, no seu idioma de Minions do Meu Malvado Favorito, explicou que tinha uma bruxa má e ela tinha batido nela pra cuidar da gente. O argumento foi louvável. Nos defendeu daquela bruxa malvada. Ainda bem! Agora precisamos trabalhar melhor o quesito proteger nossa conta bancária.

Agora imagine que bom seria se um terço da população brasileira tivesse esse ímpeto de defesa própria e de seus semelhantes quando algum vilão está fazendo maldade? Nossa estava tudo resolvido! Não passava boiada, não passava 89 mil, não passava arroz a mais de R$ 6,00, não passava censura institucionalizada, não passava sucateamento do serviço público, não passava preconceito endossado pelo Estado, não passava genocídio, não passava necropolítica, não passava! Ensinamos muitas coisas para as crianças, mas elas têm muitas para nos ensinar, claro que não precisa custar uma televisão, mas sejamos positivos.

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