Sobre o mundo, selfies e trens

 

Enquanto eu tomo um café preto cedinho de manhã buscando conectar meu cérebro ao corpo e ao mundo, leio uma notícia sobre uma ciclista que foi fazer uma selfie ao lado de um trem em movimento em Minas Gerais e acabou atingida pela locomotiva. A moça não morreu por gentileza do capacete. Nessa história Narciso usava EPI (equipamento de proteção individual). Ainda que diga em entrevistas que não foi a óbito por Deus ter um propósito maior pra ela. O que não é de todo descabido, afinal sabemos que o todo poderoso tem uma estranha predileção por seres que descreem das teorias evolucionistas. Já imagino a moça pregando sua estupidez em algum templo duvidoso e sendo idolatrada por sua insipiência. Ninguém tá imune a fazer besteira, mas acho que seria menos indigno dar um certo crédito ao capacete.

Encaminho a notícia e escrevo dando voz à idosa que mora dentro de mim: Amiga, o mundo tá perdido! Sigo tomando o meu café e lembrando que há um tempo atrás eu li em algum lugar que morrem mais pessoas por selfie do que por ataque de tubarão. Pensa no risco que a moça correu? Antes tivesse ido nadar na Praia de Boa Viagem, mas provavelmente se o fizesse estaria tão distraída fazendo uma selfie que acabaria pisando no rabo de um tubarão e corríamos o risco de registrar uma morte por selfie seguida de ataque de tubarão. Pensa nessa manchete? Pensa nessa selfie? Quantas curtidas teria? Será que seria um viral póstumo?

Passou o dia e o algoritmo, esse sabichão, que sabe mais sobre nós que nós mesmos, me confidenciou que o caso de Minas Gerais não tinha sido o primeiro acidente envolvendo selfie e trem na semana. Uma moça no México teve a mesma genial ideia de fazer uma selfie bem pertinho de um trem em movimento, tão pertinho que o trem bateu em sua cabeça tal qual a ciclista brasileira, mas Narciso mexicano não usava EPI e morreu no local.

É amiga, o mundo tá perdido!

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