O direito de comprar canudos
Um dia estava eu comprando decoração para uma festa infantil em uma loja dessas que já foram chamadas de 1,99 e hoje tiveram os juros corrigidos para tudo por 10 reais quando me deparei com canudos, digamos, fálicos. Na verdade eram literalmente canudos de piroca.
Sou muito canguinha, não precisava deles para uma festa infantil, considerando que não sou entusiasta da fake news da mamadeira de piroca, portanto não os adquiri. Mas devo confessar que a possibilidade de comprá-los, assim como quem tem direito a ter um cpf próprio, tem direito ao voto e pode sair do país sem precisar de autorização do marido, em comunhão com o capitalismo e a sociedade do efêmero despertou em mim um desejo de consumo. Tanto que fotografei o acessório de drinks de estética questionável e enviei para todo mundo que o acharia exótico, engraçado (poderia dizer gozado, mas talvez seja infame demais).
Dia 30 de dezembro passado voltei à loja para comprar alguns itens para a festa de réveillon, desta vez acompanhada de alguns amigos e do meu marido. Não tínhamos em mente comprar os “dicky sipping straws”, mas foi uma decepção quando não os encontramos pendurados na gôndola do estabelecimento. Eis que meu marido numa tentativa de me ver ficar da cor de um tomate, perguntou para a vendedora sobre os tais canudos, dizendo que eu estava procurando por eles. A moça simpática foi no estoque e achou um último pacote. Depois disso, mais constrangedor que comprar, seria não comprar. E assim como quem pode frequentar a escola, criar um partido político, do jeitinho de quem pode ter conta em banco, da mesma forma que se tem o direito ao divórcio, da maneira que podemos ter passaporte próprio eu e uma amiga investimos R$10,00 em inúteis picanudos, algo totalmente impensável antes de 1800.
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