Um vício chamado grupo comigo mesma

 

Lembro como se fosse ontem quando aprendi a criar no whatsapp um grupo comigo mesma (talvez, tenha realmente sido ontem). Foi uma revolução na minha vida. O batizei de “eu, Irene e eu mesma”, em homenagem a comédia com Jim Carrey e a Renée Zellweger. Eu sei que mudei a ordem do título, mas nunca corrigi. Acho que fiquei com vergonha do pessoal (eu, Irene e eu mesma), perceber a babaquice.

Naqueles idos tempos de poucos anos atrás, nunca imaginei que eu tivesse tanto assunto comigo mesma. É um tal de fazer lista de supermercado, mandar links interessantes, enviar coisas para ler depois, rascunhar textos, muitas funções. Me lembro que eu achei tão fantástico que logo ensinei minha mãe a fazer grupo com ela mesma e ensinava todo mundo que me contava que não tinha um grupo pra chamar de só seu. Foi nessa época que descobri a importância de falar sozinha por escrito.

Logo depois que ensinei minha mãe a ter um grupo com ela mesma, a véia viciou e começou a criar vários. Ela criava o grupo comigo e em seguida me tirava. Foi assim que fiquei sabendo do “Receitas” e do “INSS”. Confesso que achei meio bizarro. Talvez, com toda a certeza, eu até tenha tirado uma onda da cara dela “Pronto! Virou a tarada dos grupos com ela mesma”, “Aí ó,! Não entendeu a moral de ter um auto grupo”.

Mas como a vida é feita de boca que fala e c* que paga, esses dias me peguei pensando que eu precisava dar um jeito de organizar “Eu, Irene e eu mesma”. Nenhuma de nós estava se achando. Não estamos dando conta da carga mental. Nos falamos tanto que perdemos o fio da meada. Não estamos mais sendo eficiente em me lembrar do que preciso fazer. Viramos uma grande bagunça! Foi aí que me lembrei da sabedoria de mamãe, que talvez não fosse a véia desgovernada dos grupos com ela mesma e sim uma simpática senhora com experiência de vida e capacidade de antever o futuro por mais absurdo que ele pareça. Quem sabe “Eu, Irene e eu mesma” precisássemos nos dividir para nos adequarmos a vida fragmentada contemporânea e nos tornarmos três entidades separadas: eu - Irene - eu mesma.

Mas sou tão apegada a esse grupo que não pude nos separar, continuamos sendo uma unidade, criei um braço auxiliar o “Rascunho e Passado a Limpo”, em homenagem ao meu tio e ao meu pai, onde escrevo ideias para escritos antes que ela fujam correndo da minha mente sobrecarregada. Considero criar o “Putz! Acabou…” para lista do supermercado, se pá o “Quem é a mãe dessas crianças?” para anotar coisas das minhas filhotas e “Ainda não sextou” para anotar demandas de trabalho. Me sinto fazendo backup de mim, quase que nem o Voldemort no Harry Potter. Minhas horcruxes são grupos de whatsapp comigo mesma. Cada vez que sobrecarrego minhas conexões neurais e mato umas células, crio um grupo novo.

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