O brinquedinho era pequeno demais

 

O que dizer sobre os moços, meio velhos, mas tem um moço no meio, que ingressaram em um submersível comandado por joystick, pra ver o Titanic e se perderam no mar? Dá pra dizer nada e dá pra dizer muito, tipo aquela frase: nem vou falar nada! Mas não vou resistir e vou falar assim mesmo. A pessoa tem tanto dinheiro, que não sabe o que fazer com ele, então faz merda. Acha que pode tudo, inventa uma diversão completamente desnecessária e com toques macabro, turismo necrófilo.

Um lado meu, que eu nem chamaria de obscuro, porque ele tá aqui bem aflorado nesse momento acha a história um tantinho engraçada. Confesso que quando li que o diretor de segurança da tal OceanGate foi demitido porque disse insistentemente que o vidro do brinquedinho de mergulhar não era adequado para a profundidade que eles queriam atingir, dei uma risadinha e segui o dia. Cada vez que lia que estavam cinco homens brancos, de meia idade, trilhardários, ficando sem ar porque acharam legal correr o risco, quase como uma contração involuntária, esboçava um sorriso. Uma coisa até meio mórbida que não me orgulho de sentir (mas também não me desorgulho).

Ah se esses moços tivessem gastando esse dinheiro pra ajudar refugiado, combater o aquecimento global, pra qualquer coisa mais útil que entrar em um submarino de brinquedo pra ver um navio naufragado. Se tivessem dado outro destino para o dinheiro sobrando, não estavam agora dando a mão para a dona morte. No entanto, há um que de egoismo no caminho para o acumulo de grandes fortunas que não permite a empatia e não propaga o senso de coletividade, o que leva as pessoas a destinos como esses de querer ser tão único que acabam sendo mortos, porque são ricos e dinheiro, desculpa contar assim e decepcionar um monte de gente, não faz de você um super herói imortal.

Outra coisa que chama a atenção é a importância que a imprensa dá ao caso e o esforço que fizeram para achar o brinquedinho de controle remoto. Um aparato absurdo pra tentar localizar cinco homens, branco, hetero, que dormem no dinheiro. Países e empresas loucas para serem os salvadores dos super-ricos submersos. Quem sabe se os encontrassem não seriam agraciados com esmolas poderosas? Se o Titanic tivesse afundado mais perto da Europa, a operação de resgate ia ser mais complicada, porque precisariam desviar dos corpos dos imigrantes que morrem afogados as pencas que estariam “atrapalhando” o trabalho.

Só tem uma coisa que eu realmente lamento nessa história toda, que tem me feito refletir muito, é que o submarino de brinquedo era pequeno demais. Tinha tanto os outros trilhardários que podiam ter embarcado nessa aventura, por exemplo, quem sabe Neymar, Daniel Alves, não pudessem ter investido na viagem com o brinquedinho em águas profundas? E tantos outros que podiam ir lá brincar de submarino. Acho que para o mundo respirar aliviado, perdão pelo trocadilho infame, o submersível teria que ser muito grande, maior que o Titanic.

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