Na hora do almoço descobri que tava velha
Sentamos para almoçar e de supetão veio a pergunta: Mamãe você pode pesquisar e me mostrar as músicas das cantoras Anitta, Ludmilla e Pabllo Vittar? Deu até saudade de quando ela perguntou de onde vinham os bebês. Meu lado careta, quadrado, crítico e pudico queria dizer: Isso não é música para uma guria da tua idade! Meu lado pseudo intelectual chorava: de nada adiantou uma década de Amy Winehouse, Beatles, Ella Fitzgerald, Marisa Monte, Elis Regina, Blitz, Chico, Caetano, Gil, Paula Toller, Rita Lee, Nando Reis e tantos outros. Meu lado mãe, prudente, mais ou menos sensível se sobressaiu e disse: Depois a gente vê isso. Como quem diz: Na volta a gente compra.
No dia seguinte, a pergunta voltou. Veja bem, a pergunta por si só já é um pedido de permissão para algo que ela não se sentia pronta ou autorizada para fazer sozinha. Se quisesse, poderia ter pesquisado por conta própria e nem me dito nada. Um belo dia eu chegaria em casa e estaria tocando :
Chegueiiiiiii
Cheguei chegando, bagunçando a zorra toda
E que se dane, eu quero mais é que se exploda…
E eu não ia dizer nada. Talvez desse uma resmungada, mas não passaríamos desse ponto.
Dei tratos à bola de como eu faria isso. Resolvi jogar limpo. Expliquei que esse não é o tipo de música que eu ouço. Acredito haver uma hipersexualização do corpo feminino nessas cantoras que pode ser inadequado para uma menina de dez anos e meio. Por outro lado considero interessante que todas elas têm um posicionamento político firme, declarado contra o obscurantismo que tomou conta do país. São grandes empresárias com uma estratégia consistente (Anitta não foi a cantora mais tocada no Spotify mês passado a troco de nada). E surgem dentro de cenários musicais que normalmente objetificam corpos femininos e elas invertem essa lógica dando vozes a esses corpos.
Cá entre nós o pedido poderia ser bem pior. Meu incômodo seria imensurável se ela quisesse ouvir sertanejo, achasse que agro é pop. Ou pedisse para pesquisar música gospel e simpatizasse com a bancada do boi, da bíblia e da bala.
De mais a mais sejamos honestos na minha adolescência eu muito segurei o tchan, amarrei o tchan, tchan, tchan, tchan. Ralei na boquinha da garrafa. Passei cerol não mão e disse vem aqui com seu tigrão. Mandei meu cachorrinho vir aqui que eu tava mandando. Disse que a onda era o carrinho de mão padá, padá, padá. E tô aqui, viva, pensando. Logo quem sou eu para não mostrar Anitta, Ludmilla e Pabllo Vittar?
Essa semana, em meio a um ciclone que se aproximava de Porto Alegre, eu e ela assistimos alguns clipes. Demos boas vindas a pré adolescência que os ventos e o tempo trouxeram.
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