Não negue a existência do coelhinho da páscoa

Semanas que precedem a páscoa, a pequena entra no carro na saída da escola e começa a entoar uma música que desconheço, mas que logo percebo que louva algum deus. Um alerta acendeu na minha mente, foram meses buscando uma escola laica, o que diabos estamos cantarolando? Sem querer parecer um sensor pergunto: E essa música? Onde tu ouviu? e a resposta vem: “A Profe colocou na hora do lanche”. A música na hora do lanche eu já conhecia como sendo uma prática na escola, mas nunca tinha surgido uma canção de teor religioso. Pensei, talvez a escola seja tão laica quanto o estado brasileiro. Quase em um desabafo comentei: Não acho esse tipo de música que fala de deus boa para hora do lanche!
No outro dia na hora de ir pra escola a pequena olha pra mim com cara de desafio e diz: Vou contar pra Prof que tu não gosto de música de deus. Eu, trabalhada no ateísmo que cultivo há mais de 40 anos, digo que não tem problema. 
Quando fui buscá-la na saída do colégio ela prontamente me disse: Contei pra Profe que tu não gosta de música de deus, mas daí ela me perguntou porque e eu não sabia responder. Entramos no carro e eu didaticamente expliquei que existem pessoas que acreditam em um deus, pessoas que acreditam em outro, pessoas que acreditam em vários e pessoas, como nós na nossa família, que não acreditamos em nenhum e que eu considero desrespeitoso colocar música falando de um determinado deus em um grupo de pessoas diversas que acreditam em outras entidades ou em nenhuma como nós.
Ela ficou pensativa, me perguntou porque eu não acreditava em um deus. Expliquei que não considerava uma entidade divina e superior capaz de poder interceder pelas cagadas que fazemos no mundo, muito menos declarar o que é certo e errado para cada um, que entendia a crença como uma forma de achar consolo para o que a ciência ainda não consegue explicar e assim exercer domínio sobre as pessoas, mas que eu acreditava em algumas coisas como ciência, energias, pensamentos. 
Então, ela com aqueles olhinhos amendoados, me olha pelo espelhinho bem séria e me diz: Ok, Deus não existe, mas não vem me dizer que não tem coelhinho da páscoa!

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