Panela de Pressão

 

Não sei se é coisa de brasileiro, mas por aqui todo mundo tem medo de panela de pressão.Quando a gente é criança sempre ouve de algum adulto “cuidado com a panela de pressão”. Quando começamos a aprender a cozinhar dá uma sensação de c* na mão quando tem que usar a maldita panela. Tem muita gente experiente na cozinha que até hoje não usa porque acha muito perigoso. Todo mundo tem uma história trágica da mãe, do primo, da vizinha que teve queimaduras horríveis de terceiro grau por causa de uma panela que explodiu. Tratamos a panela de pressão como uma bomba caseira e acidental, o que não é totalmente distante da realidade (talvez a parte do acidental, seja).

Uma época fiz um curso de gastronomia e descobri que a panela de pressão só explode se a válvula estiver obstruída e gerar tanta, tanta pressão, sem conseguir liberar o ar que tem dentro. Essa descoberta melhorou muito minha relação com esse utensílio. Hoje diria que tenho até certo apreço por ele. Coloco o que for pra cozinhar e fico de butuca. Se o ar não tá saindo direito pela válvula, mantendo a pressão correta, vou lá desligo o fogo e vejo o que tá acontecendo.

Nos últimos tempos tenho me perguntado se em todas as culturas do mundo as pessoas tem medo de panela pressão ou se é algo bem brasileiro? Me questiono porque talvez esse temor tenha suas raízes na nossa construção social. Nós vivemos há anos em uma grande panela de pressão prestes a explodir. O conteúdo sólido da panela é o povo, que é cozido ali. Por vezes a pressão aumenta muito e obstrui a válvula, mas quando a panela começa a apitar estranhamente dando ares de que explodirá vem uma mão externa e desliga o fogo, se necessário até coloca embaixo da água fria para aliviar a pressão mais rápido. Quando a pressão baixa, colocam ela no fogo de novo, sem desobstruir a válvula nem nada. Cozinham o máximo que dá, se mais uma vez parece que vai explodir, vem uma ajuda externa que apaga o fogo e deixa a pressão baixar. E assim seguimos, sem nunca desobstruir a válvula, mas queimando o conteúdo interno até que não sirva pra nada.