Momento histórico

 

O coisinha bem desgastante essa de passar por momento histórico, hein? Momento histórico parece uma matrioska (aquelas bonequinhas russas que têm uma dentro da outra, dentro da outra, dentro da outra....).

Viver a era da internet por si só já é um momento histórico. A rapidez e quantidade de informação que recebemos é absurda. Quando que há quarenta anos atrás pensaríamos em experienciar isso?

Na década de 80 tínhamos telefones de discar e a linha custava uma fortuna, quem (ser humano comum, prosaico) imaginaria um smartphone? Um pouco antes da pandemia levei minha filha mais velha, então com 8 anos, a um museu e mostrei um telefone daqueles. Contei o que era aquele aparelho, ela olhou pra mim como quem olha para o museu em pessoa e disse abismada: "Sério? Mas como isso funcionava?". Quando que naquela época imaginaríamos não ir ao banco? Alguém imaginava que banca de jornal seria total old school? Aqui em casa quando tem trabalho de escola das crianças e mandam recortar jornal ou revista eu sempre me pergunto se é para as crianças saírem recortando os celulares, tablets e computadores. Confesso que devido a era digital me tornei ladra de revista e jornais de distribuição gratuita para os trabalhos escolares.

A internet nos facilita muitíssimo, mas também nos inunda com um mundo de informações que não somos capazes de absorver ( e eu to escrevendo isso que vai ser postado na internet e talvez não absorvido, paradoxal, né?). Sem contar que exige discernimento no consumo da informação, o que visto a realidade mundial percebemos ser uma coisa difícil. A velocidade e quantidade de informação, consequentemente, pautam uma nova relação de espaço e tempo. O que por sua vez nos leva a uma sociedade muito mais ansiosa e ao que parece viver momentos históricos requer paciência.

Além da revolução de tecnologia e informação estamos presenciando a falência do capitalismo, a morte do patriarcado, uma pandemia como não se via há 100 anos, o desnudar da bestialidade que de tempos em tempos parece desabrochar anunciando que o rei não está nú, está, sim, grotescamente pelado. Tudo isso sendo bombardeado vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana.

Não há gastrite que aguente, não há compulsão alimentar que não aflore, não há enxaqueca que não lateje, não há pressão que não suba.

Imagine se na queda da bastilha tivesse internet? Se além de pegar em armas ainda fosse necessário subir a hashtag #liberteigualitefraternite? Imagine Nero repaginando Roma (depois de atear fogo) e postando fotos com a legenda “Eu mereço! Gratidão!”? Imagine Hitler dizendo frases de efeito sobre a supremacia branca em sua live semanal? Imagine as frases reverberando na televisão, nas redes sociais, ou para onde se olhasse? Imagine receber informações do massacre indígena em qualquer país da América (afinal, praticamente todos tiveram e ainda tem) por whatsapp?

Aiiiiii  que canseira, que nó na garganta, que enrosco na boca do estômago, que vertigem, socorrooooo!!!!

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