Sinta-se à vontade Dona Morte

 

Há algo que venho me perguntando faz um tempo: O que leva as pessoas a se aglomerar durante uma pandemia que tem matado mais de três mil pessoas diariamente somente em nosso país? Sendo que uma das principais recomendações para frear as mortes é justamente não se juntar em grupos. Tenho levantado algumas hipóteses para que essa recomendação não venha sendo seguida.

A primeira é que a imensa maioria do povo brasileiro não entende o significado de aglomeração ( essa ideia mantém minha fé nas pessoas). Quando os profissionais da saúde falam em não aglomerar, não se referem a ir a um show com cem mil pessoas. Aliás, se buscarmos o termo no dicionário a primeira coisa que aparece é: ato ou efeito de juntar(-se), misturar(-se), aglomerar(-se); aglomerado. Ou seja, para efeitos pandêmicos aglomera é juntar/misturar pessoas que não tem um convívio obrigatório diário.

Minha segunda hipótese é que temos muitos concidadãos com problemas de memória (prefiro não acreditar ou não verbalizar que há muita gente se fazendo de idiota). Considerando que se a pessoa entende o significado de aglomeração na pandemia só isso justificaria almoçar no fim de semana com a mãe, o cachorro do vizinho, o tio, o pai, os irmãos e a cunhada do cunhado e de noite jantar com os primos, os gansos do sobrinho, a vizinha da tia da amiga, a avó e de quebra ainda postar fotos nos stories do instagram (com todos sem máscara, obviamente) para deixar a aglomeração eternizada.

Apenas essas duas hipóteses me parecem viáveis para justificar os encontros não essenciais, considerando um cenário em que um país assiste a queda de mais de 14 boeings lotados todos os dias sem nenhum sobrevivente. Aliás se de fato caíssem fisicamente mais de 14 boeings por dia, há grandes chances que essas pessoas, que visitam o tio na casa do primo que está recebendo a irmã da amiga da avó, estivessem todos olhando para a televisão e vendo as imagens da tragédia. No entanto, a tragédia que estamos vivendo não é “escandalosa” e as pessoas a naturalizam.

Ninguém em sã consciência sairia por aí se aglomerando caso compreendesse o conceito ou não tivesse amnésia. Há não ser, claro, se porventura essa pessoa se entendesse como centro do mundo ou loucamente imortalizado pela sua simples existência, nesse último caso lamento informar: somos todos mortais desviando da Dona Morte que anda livremente pelo Brasil e ela compreende com perfeição o conceito de aglomeração e não tem problemas de memória. Cuidado!

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