Já é fim do ano

 

Oito da manhã há uma semana de acabar julho, recebo uma mensagem de trabalho me cobrando o status de um projeto. Enrolo pra ler, apesar de ter visto a notificação, porque oito horas é o momento de tomar banho pós atividade física, café preto pós banho, deixar o gato atacar meus pés e fazer a conexão da alma proletária com o universo. Quando finalmente leio vejo que o camarada começa assim:

-       Veja bem, já é praticamente o final do ano….

Por sorte já tinha tomado café, senão talvez tivesse engasgado. Fui até olhar o calendário. Será que eu tinha me atrapalhado? Sei lá, sido acometida por uma insanidade temporal e não tinha me dado conta que o ano todo já tinha passado? Mas tava lá dia 23 de julho de 2024. Dia certo, frio como os invernos tendem a ser, ano certo, a única coisa estranha era mesmo a vinda a jato do fim do ano, pronta pra passar por cima de mim em uma mensagem de whatsapp.

Quando recuperei a sanidade questionada, quase respondi com a má vontade matinal habitual.

-       Calma, moço, mal começou meu inferno astral, que eu nem acredito, mas acredito um pouco! Se já é final do ano meu gato só morre ano que vem, já fiz todos os 100 deveres de casa do primeiro ano que restavam, só me restam pagar mais 30 parcelas do meu carro, Uhu!!! O iptu parcelado acabou. Imposto de renda só o ano que vem. Moço, o peru! Esqueci de comprar o peru!

Também considerei perguntar se ele já tinha tomado o ansiolítico matinal pra seguirmos com a conversa, mas me contive, fiz o que faço com quem é muito ansioso. Não deixo a ansiedade alheia tomar conta de mim, sadicamente visualizo e não respondo. O imaginei roendo as unhas dos pés.  Enquanto, o cozinhava abri os emails e recebi uma mensagem de uma life coach, cogitei colocar os dois em contato, talvez juntos encontrassem a fórmula secreta para encarar o fim do ano, quiçá o fim do mundo.

Comecei a responder a mensagem ignorando o fim do ano. Tive que parar. Me avisaram que meu gato havia sido atropelado, tal qual Macabéa, só não sei se por um Mercedes amarelo. Vi que o ano ainda tá longe de acabar e que embora tentem acelerá-la para além de sua natural rapidez, a vida é um sopro e o momento é o aqui e agora.

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