Abaixo a lição de casa


Eu odeio lição de casa. Eu odiava quando eu era criança. Eu odiei as lições da minha filha mais velha. Eu odeio as lições da minha filha mais moça. Não que a mais velha não tenha mais, mas ela sabe que para o bem da humanidade e da nossa relação é melhor fazer sozinha. Já com a pequena que está sendo alfabetizada, preciso me nutrir de toda a paz de espírito que não habita meu ser e ajudar. E tem lição todo dia! A vontade é de me rasgar em pedacinhos. Trocava fácil a tarefa de casa por mais 2 horinhas dessa criança na escola. Eu aqui trabalhando, ela lá estudando e quando a gente se encontrasse seria só amor. Um sonho!

A gente senta pra fazer a lição e tá lá o número 59, uma lacuna, e o número 61, ela precisa anotar o número que fica entre os dois, mas resolve dizer números aleatórios: 82, 33, …e a paz de espírito começa a me abandonar. Eu grito: bingo! Ela me olha sem entender e digo: Achei que a gente tava brincando de bingo. Ela arruma sua melhor cara de saco cheio e escreve o 60, que ela sempre soube que era 60.

Sem falar nas tarefas que envolvem sucata. Uma caixa de papelão com as coisas que mais gosta, uma escultura de bicho da selva, etc. Essa atividade sempre chega quando o caminhão do lixo seco acabou de passar e não há mais sucata. Resta torcer para que a família tenha um piriri e libere rolinhos de papel higiênico. O que mais me frustra nessas atividades, é que quando vamos na reunião com a professora ela explica que é pra deixar a criança fazer, a nós pais cabe incentivar, auxiliar. A pequena faz o tal trabalho, de forma lindamente tosca condizente com seus 7 anos, mas há uma competitividade não declarada entre os pais então você começa a receber no grupo de whatsapp fotos do trabalho “das outras crianças” cheias de detalhes, muito bem acabadas. Aquele guri que todo mundo sabe que é um capeta desatento até um móbile bem projetado fez, nem dá pra notar que foi feito por alguém com mais de 30 anos.

Volto ao meu ponto, duas horas a mais dessa criança na escola, uma estagiária auxiliando, ela voltava pra casa com lição pronta, a certeza que ela própria a fez e podendo ser só amada para além da sequência numérica e a busca por sucata.

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