Nóis Trupica e cai

 

Pertenço há uma rara linhagem de pessoas que caem, é raro, mas acontece com frequência as quedas e o número de integrantes desta cepa. Minha avó caía, minhas tias caíam, minha mãe cai, minha prima cai (e me conta só uma semana depois quando já passou a vergonha), eu caio. Definitivamente não pertencemos ao grupo que trupica, mas não cai. Nós seres elevados, caímos de nossas próprias alturas. O pior é que casei com uma pessoa, cuja mãe também pertence a essa linhagem dos tombos inexplicáveis. Começo a chegar à conclusão que as chances das minhas filhas se manterem não vertical ao longo de suas vidas são ínfimas.

Essa semana mais uma vez caí, tal qual uma picanha na balança, enquanto caminhava pela rua e cheguei a várias conclusões. Primeira, a dor moral, na maioria das vezes, é muito maior que a física. Segunda, tombo não se explica, se cai. Toda vez que quem caiu ou quem viu o tombo tenta explicar aquilo parece inexplicável, uma desfragmentação do ser. Terceira, as pessoas que tentam ajudar o caínte, precisam compreender que o corpo humano para se recompor, voltar do estado líquido para o seu estado físico habitual, demora alguns segundos. Sabe-se que todo mundo quer superar aquele momento, tanto o caínte, quanto os espectadores, para ter certeza que já tá liberado rir, mas há de se dar tempo para aquele corpo que acabou de passar por um terremoto pessoal se recompor. Quarta, no tombo vale a máxima, antes só do que acompanhada e aí nem interessa se a companhia é boa ou ruim, só o fato de ter uma testemunha ocular da queda já é suficiente para que você não possa mais idealizar o tombo. Se você vinha caminhando pela rua, pisou errado no meio fio e se esborrachou no paralelepípedo, não vai poder contar que caiu quando tentava salvar de um atropelamento uma tartaruga nativa. O mais próximo desse relato que chegaremos é seu acompanhante comparar sua adesão ao solo com a de uma lesma, daquelas sem concha.

Como de tudo sempre é possível tirar uma lição nós, dessa seleta linhagem de pessoas que tem problema de se manter em pé, a cada tombo estamos mais preparados para vida que é um eterno cair para levantar.

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