Analogia da vaca

 

Você já parou pra pensar a fundo que o mundo anda poluído de tudo? De sujeira, de plástico, de gás, de partículas, de informação, de conexão, de comunicação, de gente, de imagem, de som. É tudo muito junto, misturado, girando, como que em um imenso liquidificador. Tem horas que me sinto como aquela vaca do filme “Twister”. Eu, a simpática ruminante, rodopio velozmente no ciclone, o mundo. Me lembro que quando vi o filme com meu primo em 1996 fiz várias piadas com o absurdo da vaca voando, mas cá estou eu me identificando com a bovina graciosa. Eu giro. Tudo gira.

Abrimos diariamente mil abas nas nossas cabeças e dar continuidade é difícil. Aprofundar-se em algo é um desafio. Ler sem o pensamento voar é um exercício. Ver um filme inteiro sem nenhuma paradinha pra nada, sem nem uma espiadinha no celular, nem que seja para olhar o horário é um duelo com o dedo nervoso, que fica querendo clicar em tudo, buscando uma luzinha, quase dizendo “ET telefone minha casa”.

Atire a primeira pedra quem nunca pegou o celular para pagar uma conta e quando deu por si tava lá respondendo um whatsapp de trabalho, nesse meio tempo viu um vídeo de gatinho, ficou com fome vendo receitas maravilhosas, resolveu ir ao supermercado e já não sabia mais pra que tinha pego o aparelho.  No outro dia finalmente lembrou da conta e a dita cuja até já tinha vencido. Quantas vezes você caminha pela casa entre a cozinha e o quarto num indo e vindo tentando lembrar o que ia fazer? É tanta poluição mental que simplesmente esquecemos, não lembramos de tudo. É muita coisa no redemoinho interno da cabeça.

Nesse turbilhão somos a sociedade do déficit de atenção. Estimulada, alicerçada em cliques rápidos, prazerosos que nos fazem querer cada vez mais do que nem lembramos que queríamos, porque no caminho passou outra coisa nos nossos olhos, nos distraímos e traçamos nova rota de desejos e ambições.

E assim ruminando uma analogia barata nos vemos como a vaca do “Twister”, com medo de virar a vaca do “Conto Chinês” e cair do céu. Aterrissar em um universo que não existe mais.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Dedão da patente

Que país é esse?

O direito de comprar canudos