Dedão da patente
Dedão da patente
Fiquei sabendo da
separação de uma amiga e fiquei surpresa. Não que eu achasse o marido o cara
mais legal do mundo, pelo contrário, ele é um chato. Tampouco achava ela super
feliz naquele relacionamento. Não tenho problema algum com separações. Acho que
a estranheza vinha da lembrança do casamento deles, parecia que tinha sido
ontem, embora faça quase duas décadas. Uma festança, uma gastança de dinheiro
que eu, canguinha, sempre acho um exagero. Mas por amigas e festa open bar a
gente faz coisa que nem acredita, até ficar toda empetecadinha para não destoar
da decoração.
Para a ocasião comprei um
vestido legal, arrumei meu cabelo e me maquiei em casa naquele estilo “passei a
tarde no salão” como só uma mulher de uma família cheia de mulheres sabe fazer.
Quase pronta resolvi me olhar no espelho, mas eu não tinha um de corpo inteiro.
Então, fiz o que muitas vezes já tinha feito e não tinha dado errado. Subi na
privada, no vaso sanitário ou como chamamos aqui no RS, na patente, para me
enxergar no espelho de cima da pia. Quando eu tava ali de pé admirando minha
produção doméstica com cara de salão de bairro, a tábua escorregou e eu enfiei
o pé dentro da patente. Quatro dedos entraram no cano, mas o dedão se negou a
participar daquele acidente ridículo e dobrou 90 graus (talvez mais). Naquele
dia meu dedão passou a ser conhecido por "dedão da patente". Tirei
meu pé molhado, aliviada de não ter quebrado o vaso sanitário. Ufa! Passei a vida
ouvindo do meu pai dizer: Guria não sobe na patente que esse negócio quebra e
tu te pisa! Em relação ao dedão eu já não tinha tanta certeza que ele não
tivesse quebrado. O que eu fiz? Lembrei que tinha uma festa open bar me
esperando, tomei um dorflex, coloquei meu único sapato de salto muito alto,
vulgo sapato de casamentos e formaturas e fui para a festa.
No outro dia minha cabeça
e meu dedão latejavam. Ignorei o dedão. Tratei a ressaca. O pobre nunca mais
foi o mesmo. Às vezes ele inchava e eu reclamava da dor no dedão da patente. Há
poucos anos descobri que naquela noite eu acabei com os ligamentos. Fiz
fisioterapia. Depois daquele casamento meu dedão nunca mais foi o mesmo, nem a
amiga que casou com o chato.
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