Um susto chamada páscoa

Não é novidade nenhuma que a páscoa ocorre quarenta dias depois do carnaval. Quando eu era criança, jovem, sem filhos, sem contas, inconsequente, só preocupada com viagem, feriados, fantasias e chocolates, naquela época que a vida era fácil e eu não sabia, parecia que uma data era muito distante da outra. Naquele tempo bom que não volta mais dava pra programar o que fazer, se preparar com calma para o churrasco da sexta feira santa. Depois que eu tive minhas filhas e quanto mais elas crescem descobri que há um fenômeno físico, também conhecido como vida adulta, que faz com que o tempo comprima e esses quarenta dias, viraram um tropeço daqueles que não dá tempo de se equilibrar e a gente sai tastavilhando.

Na segunda-feira de carnaval entrei no supermercado e me deparei com coelhinhos de chocolate, gritei apontando para o outro lado em direção às conservas: “Olha ali pepino em promoção! Peguem duas embalagens!” Na esperança que as crianças não vissem o tentador coelhinho, que era um coelhão e custava um caminhão de dinheiro, tão caro que podia ser parcelado em dez vezes. Hiperventilando, fui empurrando as meninas corredor a frente. Eu não sou o tipo de mãe que demoniza açúcar, não gosto que comam em excesso, mas também não vejo problema em um chocolatinho aqui ou acolá, mas veja o que o capitalismo faz com a gente. Eu sou a mãe que não aguenta mais gastar dinheiro, que entre meus maiores sonhos está não gastar nenhum real por 72h, mas isso só deve acontecer, sei lá, no mundo dos ursinhos carinhosos revolucionários que criaram uma realidade paralela sob a tutela da URSAL.

Quando chega final de fevereiro o ano mal começou e já se gastou tanto que dá um desespero. É IPTU, IPVA, férias, matrícula, material escolar, uniforme, fantasia, confete e serpentina. Sem contar que nem deu tempo de se recuperar do natal. É uma ressaca forte no mar da economia doméstica,  vem uma onda em cima da outra, sem dó nem piedade, destruindo tudo, planos, sonhos, planejamentos e a mãe tentando fingir naturalidade começa a admirar promoção de pepino em conserva. Será que o comerciante não poderia esperar pelo menos passar o carnaval pra dar o susto no consumidor? Nesse meio tempo, mantém na ponta de gôndola conservas, bebidas, biscoitos. Se continuar como está daqui a pouco, vão desenvolver coelhinho da páscoa que vem fantasiado de havaiana cantando “alalaôôô, alalaôôô, alalaôôô” e vai ficar exposto no supermercado bem pertinho da decoração de natal.

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