Só depois do Carnaval

 

O ano no Brasil só começa depois do Carnaval. Até ontem de manhã era isso que costumávamos dizer. O país para na época da festa mais brasileira de todas, menos a Polícia Federal como pudemos observar nas últimas 36 horas. O país é composto pelos entusiastas e os inimigos do feriado, porque afinal descobrimos há algum tempo que somos a nação morna dos extremos. Mas sigamos que essa crônica não é sobre política (ou será que é? Ou talvez devesse ser?)

Eu tô no time que gosta da brincadeira, tanto da PF quanto a do carnaval, foquemos na segunda pra tentar não gerar tanta polêmica na véspera do feriado. Reza a lenda familiar que a primeira vez que entrei em um bailinho, fiquei animada e meu primo da mesma idade nos limpava dos confetes, mostrando desde pequenos quem ia gostar mais da folia. Minha mãe e minha avó se dedicavam na confecção da fantasia e na maquiagem. Em um ano fui de coelhinha (era uma versão meio coelha da playboy infantil, mas tudo bem porque era década de 80), em outro fui de baiana, obviamente também tive a clássica fantasia de bailarina. Na adolescência segui me fantasiando e ouso dizer que as melhores festas nessa fase foram as de carnaval.

Adentrei a casa dos vinte ainda adorando a folia, mas já não gostando muito de multidões. Uma década depois, já tava só pelo carnaval na TV em algum lugar calmo que eu conseguisse conversar com as pessoas e havia chance de o lugar ser tão calmo que talvez nem TV tivesse. Também descobri que o cinema em Porto Alegre é sempre muito convidativo durante o feriado.

Então, nasceram as minhas filhas que ressignificaram a festa nacional para mim. Elas me permitiram voltar aos bailinhos. Me reencontrei criando mil fantasias (sim, teve um ano que eu fantasiei as duas de sushi). Com elas eu tenho o melhor dos dois mundos. Elas são a minha desculpa para me maquiar para o carnaval infantil, e elas são a validação para eu não gostar de multidões. Nossos carnavais são sempre festejados, dançados, ao som de marchinhas um tanto ultrapassadas, muito axé, samba, pagode, Xuxa, Galinha pintadinha, Bita, Palavra Cantada em cidades para onde as pessoas não vão ou naquelas que as pessoas fazem questão de sair.

É muita felicidade pular carnaval em lugares que não tem filas imensas, onde tem gelo pra bebida, onde não tem fila quilométrica para o banheiro, onde não tem bêbado sem noção. Só diversão no meio da tarde com direito a xixi em banheiro razoavelmente limpinho, glitter, confete, serpentina, bebidas alcoólicas em nível aceitável. Oficialmente sou a entusiasta do bloquinho vazio, do baile com cadeira e ar-condicionado. Com sorte ainda dá pra chegar em casa com disposição para ler as notícias do país que não para nunca.

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