ET de jardim

 

Eu não sei se é uma tendência nacional de decoração de jardim (deve ter uma expressão gringa pra dizer isso), mas aqui no Rio Grande do Sul o povo anda com um gosto, digamos, duvidoso. Não quero dizer com todas as letras que há em voga uma tendência de mau gosto, porque “gosto não se discute já diria uma velha que comia ranho” me ensinou minha mãe que é uma senhora muito distinta e não come ranho (pelo menos não que eu saiba, pelo menos não em público). O fato é que o povo gaúcho bravo e aguerrido deu pra decorar os jardins com ETs. Me pergunto porque cargas d’água alguém faz isso?

Considerando o final de 2022, época em que pequena amostra da população dos pagos foi notícia nacional tentando fazer contatos imediatos com celular na testa para que os alienígenas impedissem uma dominação comunista, não é de todo descabida a moda. Na verdade é praticamente uma representação da erudição da região.

Há lojas e mais lojas que exibem a estranha estatueta decorativa e consequentemente há cada vez mais casas com os tais seres extraterrenos adornando os jardins. Andamos pelas estradas e lá estão parados os ETs à venda. Nas cidades, nos bairros mais residenciais, o adorno bizarro começa a se multiplicar na frente das casas. O que me intriga é que o poder de compra não anda lá tudo isso e as pessoas gastam dinheiro com esse tipo de coisa. Um alienígena que não deve ser barato. Será que pagam parcelado para ter essa aberração decorativa em frente de suas casas?

Mas como o que tá ruim sempre pode piorar, hoje estava com minha filha no carro e ela me disse: “Olha ali, mamãe, ETs super-heróis!” Não bastasse o comerciante vender as esculturas alienígenas elas eram pintadas como mulher maravilha, homem de ferro, super-homem. Ou seria ET maravilha, ET de ferro e super ET?

Cada vez que eu vejo um alienígena decorativo em um jardim, imagino que dentro da casa há um cidadão de bem com um celular na testa. Seria um absurdo lutar pela volta das botas velhas, chaleiras retrô e carrinho de mão com flores? É politicamente incorreto clamar pelo retorno dos anõezinhos de jardim? Não gosto desse lance de Fake News, mas será que nesse caso específico não dá pra criar uma dizendo que o ET só liberta a família tradicional brasileira do comunismo quando ele está posicionado na sala da casa? Assim pelo menos ninguém, para além do seio familiar, seria obrigado a conviver com as estranhas esculturas e também não prejudicaria o mercado de compra e venda de alienígenas decorativos de gosto duvidoso. Ficava bom pra todo mundo, pra quem tenta contatos imediatos com celular na testa, pra quem acha que as pessoas endoidaram de vez, pra quem só acha a decoração feia mesmo, pra quem quer ganhar dinheiro com tendências decorativas duvidosas, pra quem acha bonito ter um ET. Seria um ganha-ganha.

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