Hora-bunda

Hora-bunda é um conceito em que alguém compra além da mão de obra de outrem a jornada de geolocalização das nádegas do indivíduo, ainda que as atividades a serem desenvolvidas sejam realizadas pelo cérebro do mesmo, salvo exceções. A prática é mais antiga, mas ela se consolida a partir da revolução industrial.
Uma entidade, instituição ou mesmo pessoa física através de um contrato formal ou não de trabalho passa a ter domínio sobre parte das horas diárias onde o trabalhador assenta seu traseiro no período denominado jornada de trabalho. Independente da atividade laboral ser realizada com a bunda, com o cérebro ou com qualquer outro membro. Dessa forma, mesmo que a tarefa tenha sido concluída com êxito, a bunda do trabalhador precisa permanecer no local pré estabelecido pelo empregador até findar a jornada horária estabelecida em contrato.
Com o avanço tecnológico e a velocidade de comunicação imposta nos últimos anos, aparentemente esse tipo de domínio sobre as nádegas alheias estava com seus dias contados. Depois de uma crise sanitária mundial que obrigou boa parte dos trabalhadores a fazer home office e tudo mais office, parecia ficar claro o quão ultrapassado era ter arbítrio sobre o local onde o indivíduo estaciona a bunda para desenvolver as atividades laborais. Não esquecendo aqui que há exceções, trabalhadores cujas atividades exigem que as nádegas dos mesmos estejam em determinado local, como por exemplo parte das atividades da área da saúde e atendimento ao público de forma presencial. Por outro lado, atividades que não exigem a presença física do trabalhador, nesta década davam sinais que ganhariam liberdade de geolocalização bundal.
Contudo, em uma sociedade que preza tanto por uma hierarquia baseada em mostrar que manda quem pode e obedece quem precisa, sob a ótica da detenção, e principalmente, acúmulo de capital, os donos do poder monetário gostam de ter autoridade sobre o traseiro do trabalhador. Parecem sentir maior poder, ao determinar onde essas nádegas sentam para colocar o cérebro em funcionamento, ainda que isso envolva perda na qualidade de vida ao dono das nádegas. Aliás, para que o trabalhador quer essa tal qualidade vida, se nem precisa de vida, precisa de trabalho? Nessa relação assimétrica, não saber de onde estão sendo realizadas as tarefas causa sensação de perda de controle aos contratantes. O home office, pub office, hotel office, seiláonde office acaba trazendo sentimentos controversos e negativos aos empregadores.
E nessa tendência de involução da sociedade, chegamos ao final de 2023 e início de 2024 com a retomada da hora-bunda, também conhecida como trabalho presencial por boa parte das empresas no Brasil. A relação nádegas oprimida e opressor é tão enraizada em nossa sociedade que há bundas (só podem ser as bundas) que comprimem e acabam por verbalizar que preferem ir a um lugar determinado por quem compra suas horas para que seu cérebro execute suas tarefas remuneradas diárias.

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