Rituais de final de ano

 

É chegada a hora de falarmos sobre as superstições de Réveillon. Eu não sei se alguém já percebeu, mas elas não servem pra nada. Só dão trabalho e nos obrigam a seguir rituais que nem sabemos porque seguimos. Nem sequer paramos para pensar se faz algum sentido e deixa eu te contar baixinho pra não divulgar pra geral: Não faz o menor sentido! Não causa o menor efeito!

Eu quero que se apresente quem comeu lentilha e teve mais dinheiro? Quero saber quem pulou as sete ondas e não passou por nenhuma dificuldadezinha? Quem foi que comeu porco e viu a vida andar pra frente? Existe alguém nesse mundão que vestiu branco e teve só paz nos 365 dias seguintes? Mostra a tua cara quem guardou 12 sementes de uva na carteira, teve dinheiro nos 12 meses do ano e não teve que fazer malabarismo com boletos? E a calcinha de cor escolhida com todo o cuidado deu resultado? E o banho de sal grosso? Renovou tuas energias?

Tenho compreensão que rituais de passagem são importantes como é muito bem explicado por todas as gias do mundo (psicologia, sociologia, antropologia, etc). O ser humano desde que raspa galhozinho e bate pedrinha pra fazer faísca faz rituais. Há nisso tudo uma simbologia, se vivemos a verdade nua e crua, não vivemos. Há que se ter um quê de fantasia e esperança. O que proponho não é abolição dos ritos de final de ano, é mais uma inovação, criando um movimento de atualização das tradições de réveillon, que basicamente ressignificaria esses ritos e os deixaria mais de acordo com a realidade contemporânea.

Bora comer aves que tem queda drástica no preço dia 26 de dezembro e já começar o ano economizando dinheiro. Deixa de lado essa lentilha que é demorada de fazer, fica inflacionada nessa época do ano, ainda por cima vivemos em um país tropical e lentilha faz suar. Esse é o movimento que vai pisar nas ondinhas pra amassar, atropelar as dificuldades que certamente virão. Quero ver todo mundo de preto que é cor linda, não suja e tem mais utilidade no resto do ano. Planta as sementinhas da uva, quem sabe você consegue ter uma parreira no ano seguinte e a carteira mais limpinha. Vamos legitimar passar a meia noite sem sutiã e sem calcinha em busca de liberdade! O banho de sal grosso eu manteria, na pior das hipóteses, faz uma esfoliação, deixa a cútis mais luminosa e prepara o lombo para a ralação que se renova.

 

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Dedão da patente

  Dedão da patente Fiquei sabendo da separação de uma amiga e fiquei surpresa. Não que eu achasse o marido o cara mais legal do mundo, pelo contrário, ele é um chato. Tampouco achava ela super feliz naquele relacionamento. Não tenho problema algum com separações. Acho que a estranheza vinha da lembrança do casamento deles, parecia que tinha sido ontem, embora faça quase duas décadas. Uma festança, uma gastança de dinheiro que eu, canguinha, sempre acho um exagero. Mas por amigas e festa open bar a gente faz coisa que nem acredita, até ficar toda empetecadinha para não destoar da decoração. Para a ocasião comprei um vestido legal, arrumei meu cabelo e me maquiei em casa naquele estilo “passei a tarde no salão” como só uma mulher de uma família cheia de mulheres sabe fazer. Quase pronta resolvi me olhar no espelho, mas eu não tinha um de corpo inteiro. Então, fiz o que muitas vezes já tinha feito e não tinha dado errado. Subi na privada, no vaso sanitário ou como chamamos aqui no...
Leia mais

Que país é esse?

  "Conto de Aia" romance distópico criado por Margaret Atwood foi lançado em 1985, mas eu só fui ler há uns 7 anos atrás quando virou "modinha", porque sou dessas e na época de seu lançamento eu nem era alfabetizada. Gostei tanto que nunca quis ver a série. Preferi ficar com todo o universo do livro que desenhei em minha cabeça a limitar meu olhar pelas lentes de outrem. Na época, ainda que eu tenha gostado muito do livro, foi uma leitura difícil, não pela narrativa que é excelente, mas pela realidade andar teimosamente flertando com a distopia criada pela autora o que tornava tudo muito aflitivo. Ainda que eu não gostasse, repugno inclusive, aquele era um mundo possível em um país que anda em marcha ré nos direitos das mulheres. Um dos trechos do livro que me marcou demais é quando Offred, a personagem principal, comenta que o leitor deve estar se perguntando como ela não fugiu do país antes que a República Gilead estivesse estabelecida. Ela explica que tudo fo...
Leia mais

Momento Olímpica

  Não há nada que me torne mais atlética teórica que olimpíadas. Não entendo nada de esporte nenhum, até começarem os jogos. Nesse curto período, a cada 4 anos, me torno especialista. Parece que um software esportista baixa no meu cérebro. É como se uma entidade atlética aposentada, tipo um comentarista, se apossasse do meu corpo. Sei tudo de todos, com exceção de tênis, esse só Guga Kuerten me fez torcer um pouco, ainda sem entender nadar. Depois que passam os jogos, meu cérebro desolimpíca, volto a só saber que nada sei. Minha adoração cotidiana por esporte se resume a considerá-lo como remédio de uso contínuo. Faço porque compreendo a necessidade para a saúde física e mental. Odeio praticar coisas em equipe ou que precisem de um adversário. Não gosto de depender dos outros. Já cumpro com maestria o papel de auto adversária, não preciso da ajuda de ninguém nesse quesito. Por mais que eu não acompanhe habitualmente nenhuma modalidade, Olimpíadas tem algo diferente que me faz f...
Leia mais