Árvore de natal

 

Dezembro está aí batendo na porta. Simone já começa ecoar pelas ruas alagadas ou derretidas desse Brasilzão. É chegada aquela hora de decidir: montar ou não a árvore de natal?

Eu não sou o Grinch, pelo contrário, adoro o natal. Uma das minhas grandes diversões dessa época do ano é ver filme de natal no ar-condicionado bem frio. Amo comidas natalinas. Adoro a decoração kitsch que nos permite libertar o mal gosto que por mais que neguemos, habita algum lugarzinho do nosso imaginário. Acho interessantíssimo observar como somos tão eurocentrandos, americanizados, capitalistas que normalizamos ser ganha pão de alguns idosos se fantasiar para andar no polo norte, em pleno centro do aquecimento global e é tudo tão mágico que levamos as crianças para verem aqueles velhinhos em sofrimento quase mortal, e fingimos que ele é um ser mágico, que pode mesmo ser por suportar um trabalho desses, ou talvez seja um tarado.

A questão que me pega há anos sobre o pinheiro de natal é que eu amo o natal e fingir que estou em um lugar frio, mas eu também amo gatos. Felinos e árvores de natal não combinam, não dá match. Por outro lado eu também tenho crianças, aquelas que eu obrigo ver filmes natalinos comigo assim que passa o halloween e querem ver a fake magia do natal espalhada por toda a casa. Sempre que eu não faço uma árvore tradicional de natal me lembro da minha decepção quando criança em um ano que minhas tias e minha mãe resolveram decorar palmeiras em vez de pinheiro. Achei o ó!

Na minha vida adulta enquanto gestora do pinheirinho, já desenvolvi várias estratégias. Árvore com bolinhas definitivamente não dá. Há quem diga que a última coisa que a bolinha de natal vê antes da morte é um gato com a patinha levantada. Já tentei uma árvore sem enfeites pendurados, toda decorada de lacinho, pensando que essa seria menos atrativa para as gatas. Ficou bem bonitinha, mas daí descobri que pinheiro de mentira não espeta e as felinas amadas resolveram que o pinheiro como um todo poderia ser um grande brinquedo. Já comprei pinheiro natural e o matei porque sou péssima com plantas. Já pendurei o pinheiro no teto, mas as crianças acharam estranho.

Tenho o pinheiro dito montessoriano ou pinheiro da terra plana, que é de feltro, dá pra pendurar na parede e as crianças podem ficar colando e descolando os enfeites como bem entenderem. Este custa uma fortuna na internet, e eu com todo o tempo ocioso que tenho, fiz há uns dois natais em algum dia entre meia-noite e seis da manhã, só pra dizer que tínhamos pinheiro em meio a uma reforma. Tenho especial apreço por ele, porque também gostamos de viajar nas festas de final do ano e eu o tiro da parede, coloco em uma sacolinha e ele nos acompanha aonde formos.

No entanto, esse ano finalmente temos uma sala recém-reformada e as meninas chegaram a conclusão que o nosso pinheirinho da terra plana não é suficiente. Serei obrigada a comprar um pinheiro e novas decorações porque as velhas, as gatas já destruíram. Nesse momento, antes de clicar em “finalizar compra” no mercado livre para um kit de pinheiro com mais de 300 galhos e 80 enfeites, preparo meu espírito natalino para acudir um pinheirinho que será vítima de violência e tentar fazer com que ele chegue ao natal do ano que vem. Não sei se conseguirei, porque (me perdoem as muitas religiões) o natal acima de tudo é uma data capitalista, as minhas gatas apenas estão afinadas com a lógica do mercado e demonstram que as coisas são efêmeras.

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