Inexpressividade

A inexpressividade das pessoas é algo que me afeta. Eu gosto de olhar para a face do ser humano e conseguir ter pistas do que ele está pensando, se tá me achando enfadonha, se tá achando divertido, se tem algo no ambiente incomodando. A pessoa nem precisa me dizer como ela se sente, só a cara dar indícios já me deixa mais segura. Eu não gosto de dar aula online pelo google meet justamente por isso, porque não enxergo a cara dos seres humanos. Prefiro pagar pelo zoom a não ver as expressões faciais do meu interlocutor.

Eis que há muito muito muito tempo, talvez semana passada, meu trabalho começou a  exigir que eu interagisse com um sujeito inexpressivo. A primeira vez que conversamos pensei: esse cidadão deve estar em um mau dia! Ele parecia incomodado com alguma coisa, o que não seria estranho porque sua função deve ter sido criada para a pessoa se incomodar, passa o dia resolvendo problemas dos outros, é pago para isso. Vai ver que naquele dia em que nos conhecemos ele tava resolvendo um problemão, eu cheguei para me apresentar e por isso aquela cara de bunda, cogitei na época. 

Passada essa primeira impressão, fui percebendo que aquela cara séria, sisuda, não era ocasional. Todas as vezes que ia pedir alguma coisa lá estava aquela expressão facial, que não era mal humorada, propriamente dita, mas não vinha acompanhada de uma levantada de sobrancelha que indicasse desagrado e também não vinha nem um meio sorriso amarelo que indicasse um meio agrado. A mania de perseguição começou a bater e eu pensava: gente! Esse cara não foi com a minha cara, mas por outro lado, tudo que eu solicitava era prontamente atendido. A cara era ruim, a eficiência boa.

Resolvi começar a prestar atenção na relação com as outras pessoas e fui percebendo que a cara era sempre a mesma, sobrancelhas franzidas, eficiência em seu trabalho, zero sorriso, zero bufada de mau humor, zero emoção. Não me contive e comentei com um colega que eu estava  até desenvolvendo certa de dificuldade de falar com o cidadão devido a sua inexpressividade. Ele me confessou que também nunca sabia como abordar, nunca conseguia entender se tava agrandando ou desagradando. Rimos muito, porque somos muito expressivos.

Resultado disso é que, preciso superar minhas dificuldade pessoais com a inexpressividade alheia, e cada vez que eu preciso falar com a criatura que agora para mim já parece trajar uma máscara super realista eu sou mais animada que líder de torcida, porque, embora, eu já tenha compreendido que não extrairei uma emoção ou qualquer movimento daquela cara, minha insegurança e meu lado baby da silva sauro insiste. Qualquer dia surgirei com aqueles pompons de animadora de torcida, vai que eu consiga ser odiada!

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