Esse direito ninguém me tira!

Dizem por aí que depois do temporal vem a bonança e choveu muito nos últimos tempos, física e metaforicamente. Eis que no primeiro dia de bonança física, sol a pino, fui fechar a janela do meu quarto antes de sair por volta do meio dia e visualizo, estendida no meu quintal, uma ratazana morta com direito a varejeiras em volta. Também dizem que o temporal desacomoda os bichos escrotos dos esgotos, então ainda que haja sol, há seres asquerosos vagando pela cidade. 
Vontade profunda de vomitar, calafrios que me percorrem o corpo, pele arrepiada de quem vê o perigo. Não acredito em zumbi, apenas em zumbis roedores, isso tenho certeza que existe. Penso que a imensa roedora deve ter saído meio bêbada do esgoto, encontrado com uma das minhas gatas e veio a falecer ali no meu quintal. Justo no meu quintal como seu eu não andasse com problemas suficientes para resolver. Por outro lado, eu e minha positividade quase tóxica ficamos quase felizes ao constatar que a bicha equivalia a mais de meia gata em tamanho o que deve ter evitado que elas me dessem o cadáver de presente.
Eu tenho mil críticas, todas possíveis, a sociedade patriarcal e machista, mas uma coisa que essa sociedade me dá o direito é de ter um chilique quando vejo um rato vivo ou morto. Eu poderia ponderar que, por outro lado, dentro dessa estrutura e da masculinidade tóxica esse direito é tirado dos homens. Fod@m-se os homens! Eles têm muitos direitos, então lidem com os bichos escrotos e só retiro essa minha afirmação quando eu os ver realmente buscando mudanças estruturais ao invés de dar um tapinha nos nossos ombros e dizer: Vai lá super te apoio na luta!
Enfim, teorias a parte eu precisava naquele momento de um homem para desovar o cadáver que estava lá estendido reluzente no meu pátio, porque o homem lá de casa está em licença saúde e assim deve permanecer nos próximos dias. Chamei a minha mãe, porque na hora que a coisa aperta mãe resolve. Ela olhou pelo vidro, analisou a situação e me tranquilizou: Chamei um cara para arrumar o fogão lá de casa e também tem o cara que entrega as verduras, o que chegar primeiro eu peço pra colocar esse bicho no saco de lixo. Quando acabei de me arrumar para sair ela estava ali, bonitinha com duas sacolas de supermercado na mão, aguardando o predestinado chegar.
Depois que deixei minha filha no colégio recebi a mensagem que o moço do fogão já tinha juntado a ratazana, colocado no lixo, feito o orçamento e pegaria o eletrodoméstico semana que vem para arrumar. Acho que talvez ele tenha cobrado uns R$100,00 a mais só por ter que juntar o bicho. Eu por nenhum valor teria executado o serviço e essa é uma das poucas prerrogativas que essa sociedade da a nós mulheres. Esse direito ninguém me tira!

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