A vida dos tupperware

 

A Tupperware Corporation foi fundada, em 1944, pelo americano Earl Silas Tupper. Em 1946, a empresa lançou uma linha de utensílios plásticos chamado "Tigelas Maravilhosas" que traziam como diferencial o sistema de fechamento hermético, criado para proteger e conservar os alimentos dentro da geladeira. Acho que nem em seus sonhos mais loucos Mr. Tupper pensou que seus potinhos de “matéria” gerariam tanto apego, fidelidade e desavenças nas festas de família. Hoje em dia a civilização ocidental está dividida entre aqueles que tem grande apreço pelos seus potes e aqueles que não tão nem aí, embora usem, mas usam qualquer embalagem até pote de sorvete e margarina.

Os que amam seus potinhos têm coleções dos mais variados tamanhos, cores e sempre estão procurando a tampa certa, porque elas devem se unir com os pés de meia e fugir das casas. Só isso explicaria o desaparecimento da tampa sem o pote, ou então dona tampa cansou do casamento e saiu de fininho. Vai saber?! Há quem tenha mais de cinquenta potinhos. Qualquer número acima de 20 tupperware só faz sentido se você for proprietária de uma loja de variedades;

Já aqueles que não ligam pros potes, não compreendem que é um objeto de extremo valor sentimental pro acumulador de embalagens, e não devolvem os potinhos o que gera desconforto entre familiares e amigos. Eu pertenço a esse segundo grupo. Não devolvo potinho e também raramente compro tupperware, mas não fico com todos que eu não devolvo. Pelo caminho eu encontro pares que assim como eu não dão a mínima para potinhos e passo o tupperware que chegou de alguma forma a mim para um terceiro. Não querendo me justificar, mas já me justificando é tudo subproduto do petróleo que precisa circular. Algo que dura tantos anos na natureza pode passar de mão em mão, mover a energia entre pessoas até ficar ensebado, nojento e ter como único destino a lata de lixo, lá demorar mais de um século pra se degradar ou ser transformado em outra coisa, talvez uma flor artificial horrorosa.

O que eu acho desagradável nessa treta que Mr. Tupper criou lá no fim da década de 40 do século passado é as pessoas se magoarem por potinho de plástico. Pensa, o mundo dá tanto motivo melhor pra ter magoa, tem aí posicionamento político, preconceitos, descriminação, violência e as pessoas se apegam ao tupperware?! Se eu pudesse escolher eu queria que a pessoa tivesse restrições a mim pelos meus prinpios ideológico e não pelos potinhos que eu não devolvo. A gente não passa anos lendo, evoluindo pra ser julgado pelo potinho sebento. Ainda que o ato de não devolver o tupperware seja um ato político contra grandes corporações, pois a empresa está em risco de falir devido a queda de receita, que só pode ser responsabilidade de quem não compra os potinhos. É isso, a nossa existência é política até no sistema de devolução dos vasilhames.

Nos últimos anos, aprendi a ser honesta com quem quer me dar alguma coisa em um potinho, já de saída eu aviso: sim, aceito, mas não devolvo tupperware. Se for pra devolver o potinho é melhor nem me dar nada. E não é que eu não devolva de maldade, não é nada pessoal, eu simplesmente me esqueço mesmo. Sendo bem sincera tenho dificuldade de devolver até prato de vidro, o que dirá potinho de matéria. Acho que aqui em casa não temos nem um potinho que tenha sido comprado por nós. Todos são recordações das pessoas que passam pela nossa vida. Temos muita recordação da minha sogra, que já compreendeu a forma como nossa família se organiza e agora nos entrega os potes com a etiqueta, o que nos tira a culpa da devolução, porque afinal o pote nunca foi dela.

Minha dica para os tarados dos potinhos: separa aqueles que você nem gosta tanto, e pra aquela pessoa que você sabe que não vai devolver e fica tudo bem, porque ela quando te der alguma coisa também não vai querer de volta o potinho e a vida é bem mais curta que a do tupperware pra magoar por isso.

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