Viva as mamães

 

Dia das mães tá aí e eu preciso dar um viva pras colegas mães, em especial para as mães contemporâneas, que tem crianças em idade escolar nesse momento. Você mesma, aquela que venderam a ideia na década de 1990 que era possível ter filhos, trabalhar oito horas por dia, ser bem-sucedida, gastar umas quatro horas no trânsito, ser inteligente na medida certa, ficar bonita, sarada, de unhas feita, depilada. Tenho que te contar, se você ainda não se deu conta, não dá pra fazer essa porrada de coisa, ainda controlar o tempo de tela do pequeno, ser legal, descolada e postar no instagram sua vida perfeita. É mentira, é fakenews, porque não rola e te digo isso baseada em pesquisas nada tendenciosa, utilizando a técnica de grupo de foco. Feita de forma segura, amostragem aqui chamada de amigas, em lugar completamente neutro, chamado mesa de bar.

Entre as conclusões levantadas é que lá pelas tantas você não sabe mais se é mulher, mãe, profissional, lavadeira, máquina de lavar ouças, lixeira, uber de criança, carregador de mala, entregador de supermercado ou gestor de conflitos, mas tem uma certeza: você faz coisa pra caramba.

Quando perguntam “o que você é?” Dá vontade de responder “Um ser complexo”. Quando perguntam “O que você faz?” A mãe moderna ri de nervoso, sem nunca saber se querem informações sobre as suas atividades mal remuneradas ou as não pagas, daí paira aquela dúvida no ar.

É uma coisa de louco esse negócio chamado vida adulta em uma sociedade acelerada, onde faltam horas na porra do dia pra você dar conta, ou se conformar que não dá conta e tá tudo bem. O único problema é que, talvez você tenha um pouco de dificuldade de parar para refletir que não dá conta, porque para isso você precisa de um tempinho que tá fazendo falta.

Eu, por exemplo, tem semanas que eu não sei se estou organizando minha agenda para o que preciso fazer ou montando quebra-cabeça. Tento começar pelas bordas, mas nem sempre funciona e não é incomum eu combinar algo com alguém e cinco minutos depois mandar mensagem dizendo: “Desculpa! Me enganei, não posso”. Perco as peças do jogo com mais frequência que eu gostaria, mas eu devo ter um certo nível de TOC não diagnosticado, não gosto de deixar as coisas pela metade, então vou lá e ajusto as peças pra tudo funcionar, chegar na sexta-feira fim do dia e dizer: Porra que canseira!

E é isso que o mundo contemporâneo e o capitalismo selvagem tem pra oferecer pra você mãe moderna, trabalhar picadinho (ainda não inventaram um funk assim: a nova onda é trabalhar picadinho?), enquanto faz uber de criança, supermercado, almoço, janta, arruma lancheira, chora no banho, arruma a acasa, mas nesse domingo receba as homenagens merecidas, e se tiver um tempinho aproveita pra refletir que pode não dar conta de tudo e dizer de vez em quando, só de vez em quando, principalmente pra você mesma: Olha, assim não dou conta.

Assumir é o primeiro passo pra mudar o conceito de mulher maravilha que nos venderam, sem olharmos bem os termos do contrato. Feliz dia das mães!

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