Desonestidade até no gumex

 

Chove, chove e chove. Três, quatro dias, não sei ao certo. Uma sensação de que faz um mês que a luz do sol não aparece. O home office fica ao mesmo tempo depressivo e aconchegante. Que bom que não preciso botar o nariz pra fora. Sinto pena das crianças entrando na van pra ir pro colégio. Sinto alívio porque não preciso levar. Só abanar de pantufas da porta.

Sento na privada pra fazer xixi e os azulejos me acompanham vertendo água, é a umidade que não deixa nada ficar seco. Faço uma reverência imaginária a minha mãe que comprou uma máquina de secar roupa para casa no inverno passado. Ou teria sido no inferno passado? Não tenho certeza. Entro no escritório pra trabalhar e ligo a luz, a sensação é de um eterno início de noite

Ok, não sejamos tão pessimistas, não é nada de mais, só que o tempo nublado dá uma certa lombeira mesmo, uma falta de vontade de fazer qualquer coisa. Eu poderia dizer que odeio inverno, mas seria mentira eu gosto bastante, quando é ensolarado e seco. Odeio umidade, talvez eu esteja morando no lugar errado. Eu sei que precisa chover, mas precisava ser tanto assim? Não dá nem uma pausinha? Olho a previsão do tempo e descubro que seguirá assim chovendo, sem nenhum raiozinho de sol ao menos pelos próximos quatro dias. Decido tomar um cafezinho pra aquecer a alma e dar uma certa energia para seguir a vida. Ao lado cafeteira está a geladeira toda suada, parece que foi passear na rua, que desânimo!

Já é quase hora das crianças voltarem pra casa. O dia se arrastou ligeiro. Penso: coitadas com essa chuva. Penso: ainda bem que não tenho que buscar. Enquanto tomo o café, ouço a notificação do whatsapp. Abro e alguém me encaminha uma charge do braço direito do bolsonaro sendo preso (o membro mesmo) e dizendo “A culpa é do esquerdo”. Opa, deve estar rolando alguma coisa que eu olhando pro meu próprio umbigo, minha própria umidade perdi. Abro as redes sociais e lá está o Zé gotinha dizendo: Para você, Sr. José Gota, por favor. Várias mensagens no direct, porque minhas amigas não estavam preocupadas com umidade, ou estavam, mas não com a minha visão “all by myself”.

Sou invadida por uma emoção crescente, ousaria dizer que sinto até uma certa enorme animação. Tanto motivo óbvio pra f*der com o cara e encontraram um que ele não esperava, dá uma alegria! O humor muda, surge uma vontade de desfilar na chuva mesmo com uma plaquinha escrita “eu já sabia”, mas a plaquinha ia ficar molhada, melhor é esperar as crianças chegarem e fazer uma boa pipoca para assistirmos ao jornal para aprender o que é corrupção de menores, falsidade ideológica, associação criminosa, invasão de dispositivo, entre outros. Nada como aula prática para a criança entender o que não fazer para ser um cidadão ilibado quando crescer. Vai ser animado!

O Jornal começa, olho aquele ser abjeto e penso, logo, logo vão provar que o cartão de vacinação era falso e que aquilo no cabelo não é gumex (até porque não comercializam o produto desde a primeira infância da minha mãe), mas sim sebo. Oh pessoa desonesta e sebosa!

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