O que os olhos não veem, a cabeça inventa

 

Meu portão eletrônico trancou enquanto abria. Nenhuma surpresa porque ele deu pra fazer isso já faz alguns meses, mas não a ponto de ser classificado como prioridade. Por isso faz algum tempo que temos um portão semi – automático, ele abre até a metade o restante da abertura precisa ser feita manualmente.

Uns dias atrás estava eu chegando em casa, apertei o controle ele abriu até a metade eu desci do carro empurrei o que faltava, entrei no carro dirigi o veículo para dentro do pátio apertei o controle, o portão fechou até a metade, nada de novo, desci do carro para fechar o que faltava e segurei em uma das barrinhas de ferro que compõem o pesado portão, puxei com força e quase acabei estabacada no chão porque a maldita barrinha soltou na parte superior, me anunciando que o conserto vai ser maior do que eu esperava.

Como estamos em obra pensei: amanhã peço pro pessoal que tá trabalhando soldar e eu poderei continuar usando meu portão semiautomático (como se essa modalidade de tecnologia existisse) até minhas economias, se tornarem de fato economias e eu possa arrumar essa porra!

Durante o dia segui a vida como se aquela barrinha estivesse presa bonitinha, deixe ela até encaixada pra disfarçar. Na teoria tudo lindo, mas daí veio a noite, e cá entre nós sou brasileira vivo em uma capital, moro em uma casa que não é em condomínio, não tenho nem a falsa sensação de segurança, aqui nós somos brasileiros raiz, com nenhum sentimento de segurança. A 1h40 na madrugada escura e silenciosa minha cachorra latiu incessantemente. Quando ela parou ouvi uma batida de porta de carro. Pronto! Tive certeza que alguém havia empurrado a barrinha solta e estava no pátio da casa, mais especificamente mexendo no meu carro, sentei na cama ao estilo suricato, e fiquei observando. Dali a pouco mais uma batida de porta de carro. Pronto fodeu! Certo que era alguém que já vinha observando a casa, e tava cerrando aos poucos o portão e só eu não tinha me dado conta.

Como sou um suricato discreto e meu marido olhou pela fresta da janela, me garantindo que eu estava viajando e nada acontecia, deitei e fiquei esperando a invasão, porque ela viria. De vez em quando eu dormia, daí me acordava pra saber se algo tinha mudado. Cada vez que a cachorra latia eu quase infartava. Uma noite mal dormida pra caramba, ainda que, por sorte, a casa não tivesse sido invadida, eu tinha certeza que ia chegar no pátio de manhã e o carro não ia ter rádio, nem roda nem nada.

Na manhã seguinte acordei e descobri que o “ladrão” que tinha entrado no meu pátio na verdade, era um convidado, talvez um caso romântico da vizinha do lado e que o barulho de porta de carro batendo deveria ser ele ou ela chegando para passar a noite na casa ao lado. Não canso de achar doce e fascinante essa relação doentia que nosso corpo mantém com nossa mente criativa e fértil.

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