No meio do caminho tinha uma costela

 

Cresci tendo bichos de estimação, mas devo confessar minha predileção pelos felinos. Atualmente tenho duas gatas Marie e Petit Gateau. Elas são boa gente a maior parte do tempo até implicarem com a ração. Troquei de ração, por motivos de ter uma de tão boa qualidade, mas em promoção e não fiz menu degustação pra elas expressarem sua opinião sobre o assunto. Agora resolveram ficar nojentinhas, a gente serve elas olham, cheiram e se retiram.

Minha filha mais velha anuncia: “Manhêeeeeee as gatas não gostaram da ração!” e eu respondo “quando sentirem fome comem.” Meu marido avisa: “Tão deixando a ração no potinho!” e digo “Ninguém tá desnutrido, quando sentirem necessidade real comem”.

Eis que domingo passado, domingo de páscoa, estou saindo ali pelo horário do meio dia para buscar minha tia para vir almoçar e me deparo com uma costela assada dentro do meu pátio próximo ao pneu do meu carro. No meio do caminho tinha uma costela, tinha uma costela no meio do caminho, tinha uma costela, no meio do caminho tinha uma costela, nunca me esquecerei desse acontecimento, na vida das minhas cretinas safadas gatas, nunca esquecerei que no meio do caminho tinha uma costela, tinha uma costela, tinha uma costela no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma costela.

O leitor aqui poderia imaginar um ossinho, preciso esclarecer que era uma costela gaúcha de janela, daquelas bem grande quase do tamanho das gatas, com cinco ou seis ossos, com carne que não era resto, era uma costela pra ser servida. Eu não estava fazendo churrasco em casa, logo concluo que crio duas felinas larápias que andaram assaltando alguma gamela da vizinhança. Que vergonha! Não estavam no local do crime quando abri a porta, porque devem ter fugido quando ouviram o barulho com medo da bronca, atestando a culpa.

Olhei pra costela e fiquei pensando o que fazer. Sussurrei pro meu marido: “Vem aqui amor, acho que temos um problema!”. Ele chegou, eu discretamente apontei pra costela estendida no chão. Não queria fazer grande alarde para os vizinhos não suspeitarem das minhas felinas. Sim, acobertei o crime, talvez tenha sido em parte porque me senti um pouco culpada, em parte porque tive medo que transformassem as bichanas em churrasquinho de gato e tamborim. Roubar costela do churrasco, aqui no Rio Grande do Sul, pode resultar em morte. Meu marido, então pegou sacolas e ocultamos a prova do crime na lixeira da nossa casa. Seguimos cinicamente nossa vida, nosso almoço de páscoa como se nada tivesse acontecido.

Ainda bem que não vi o guarda Belo na minha rua. Desde o ocorrido tenho certeza que abrigo na minha casa a versão gaudéria e feminina de Manda Chuva e Batatinha.

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