Fiquei sem graça

 

O que dizer de uma sociedade que gera um ser que é capaz de entrar em uma escola e matar crianças a machadada? Matar a machadada, por si só já é um completo absurdo, matar crianças em escolinha a machadadas é a concretização desse conceito abstrato.

Quem dá esses golpes não é uma pessoa, não é um ser humano, é uma sociedade inteira. Falida, corrompida que permite que aconteça. Esse ser adoecido, capaz de dar forma à representação de ilógico é o fruto da colheita do que vem se plantando. Um maluco sozinho não se sente confiante pra investir contra crianças. A certeza de que tem quem se identifique com seus propósitos é um incentivo. O país vem de anos de encorajamento, anos de ensinar a fazer arminha com a mão, anos de culto a violência em suas várias formas. Isso não acaba do dia para noite.

Assim como não foi um Lúcifer que plantou essa situação em nossa sociedade e sim um trabalho estrategicamente desenvolvido e construído para chegarmos onde estamos, também não é um ser messiânico que vai nos tirar disso. O culto a celebridades e entidades nos mantém na ignorância. Somos um povo politicamente analfabeto, quando pensamos que elegemos um mito ou um messias, esperando uma mudança nos eximimos da responsabilidade, esperamos pacificamente e nada muda. Enquanto não compreendermos que o agente de mudança somos nós mesmo, teremos problemas. Problemas em não enxergar o coletivo.

Vivemos sob um monte de regras, regras pra inglês ver. Uma série de normas sem sentido, mas princípios básicos podem ser infringidos que os transgressores saem ilesos e as vítimas nem tem tempo de entender como suas trajetórias foram interrompidas. Quando morre um filho, morre uma mãe, morre uma família, morre um futuro, morre uma esperança.

Não me surpreenderia se esse alguém que acabou com a vida dessas famílias, ficasse menos tempo preso que a mãe que roubou alguns itens no supermercado pra alimentar seus filhos. Esse é o nosso país, que ama apenas as vidas de homens, hétero, brancos, cis, as outras todas são descartáveis.

Desculpa, não deu pra ser engraçada e sarcástica essa semana.