Exercício de cognição

 

Dizem os profissionais da saúde que exercícios são essenciais para a qualidade de vida do vivente. Eu que sou reles mortal de humanas e não to a fim de testar minha letalidade, não discuto. Vou lá a não sei quantos mil anos me exercitar diariamente, provando que o foco não é necessariamente a pressão estética, mas principalmente artérias desentupidas, cabeça desanuviada.

Antigamente, na época da aeróbica, da aula de step, dos vídeos da Jane Fonda, diziam que exercício três vezes por semana tava ótimo, mas quanto mais sedentária a humanidade foi ficando, mais exercício foram dizendo que temos que fazer. Deve ser para compensar aqueles que não fazemos mais, tipo levantar pra trocar o canal da televisão, aumentar o som do rádio, lavar roupa a mão.

Exercício é importante até pra cognição. Há quem ache bobagem, mas isso é coisa de quem não faz a atividade bem orientada. Um profissional competente, uma academia de qualidade, faz com que exercitemos o cérebro, sim.

Às vezes eu to lá toda esbaforida, suada, a professora me manda fazer um exercício dificílimo e diz com naturalidade:

- Faz quatro séries de 10.

Eu começo a fazer, a contar e ela acrescenta:

- Não esquece de inspirar quando sobe e expirar quando desce.

Pronto tá aí um exercício de cognição completo. Primeiro eu preciso contar enquanto faço um movimento, o que por si só já é difícil, nesse meio tempo preciso lembrar que inspirar é puxar o ar pra dentro dos pulmões, e expirar é deixar ele sair e se não bastasse entender os conceitos, preciso fazer pensando o que já faço normalmente de forma involuntária. Meu cérebro fica, mais ou menos, assim: inspira-um-expira-inspira-dois-expira-inspira-três-expira-inspira-quatro-expira…..Isso é muito difícil, mas a boa professora quando percebe que você pegou o jeito adiciona mais peso, porque pro exercício funcionar não é pra pegar o jeito, pra ficar facinho. Então, quando você já consegue inspirar-contar-expirar com peso ela te olha com aquele olhar doce, sádico e diz:

- Agora quando tu agachar, conta até três, e sobe. Faz quatro séries de dez, ah e não esquece inspira quando desce expira quando sobe.

E lá vai o cérebro trabalhar: inspira-agacha-um-dois-três- sobe- expira- um – inspira-agacha-um-dois-três-sobe-expira-dois-inspira-agacha-um-dois-três-sobe-expira-quatro-inspira-agacha-um-dois-três-expira-cinco…. A coisa é tão complexa que lá pelas tantas você não sabe mais se tá fazendo exercício físico, ou um mantra baseado em uma dizima periódica. A cereja do bolo da academia é que se a professora for uma pessoa legal e bem informada ela ainda te coloca pra fazer tudo isso e falar sobre a vida, vira amiga, uma coisa de louco o poder de persuasão dessas pessoas.

Por fim minha dica pra quem não tá na academia, mas acha que é necessário se mexer: procure uma academia voltada para o público 40+, quem assume que é quarenta mais é quem quer qualidade de vida, artérias desentupidas, mente fresca, e não necessariamente desfile de moda e bumbum na nuca (até porque, como já disse Gregório Duvivier, bumbum na nuca é um conceito maromba bem estranho, pensa em um bumbum na nuca?). Mexa-se em um lugar agradável, com gente agradável, que o sofrimento fica menos sofrido, ainda que sofrido.

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