Recorde do Vício

 

Semana passada bati um recorde. Bati não, batemos, eu e meu marido. Até deveríamos entrar pro Guinessbook. Nunca fui fã de séries da moda, é preciso manter minha fama de mau, perdão pelo trocadilho infame, ou fama da Mal, não sei bem. O fato é que lá por março, talvez abril de 2022, meu marido me disse: “Assisti dois capítulos de Grey’s Anatomy e tu vai gostar. Se quiser assisto de novo contigo.” Isso foi suficiente para me tonar uma viciada. Assistimos às dezoito temporadas em menos de um ano. Praticamente assistimos dezoito anos em um. Fomos mais eficientes do que JK com seu cinquenta anos em cinco. Ok, eu sei que isso não é lá grande coisa! Mas pensa só, quando começamos a assistir, os médicos eram “bipados” agora já tem até whatsapp.

Esse foi um caminho difícil de se percorrer. Quando pensávamos que tudo estava sob controle o Prime tirou a série do catálogo. Podíamos ter parado por aí, mas não. Assinamos o Star+. Mais um streaming em nossas vidas, mais uma mensalidade em nossas contas.

É claro que o mérito dessa “vitória” não é só nosso, devemos muito a Shonda Rhimes, que nos deu a cada capítulo uma aula de roteiro, deixando sempre um gancho para o próximo e sendo esse o grande elemento viciante. Não que não tenhamos nos revoltado com ela em vários momentos. Em muitas vezes pensamos que a coisa não ia continuar engrenada, mas de algum jeito aquela equipe de roteiristas, produtores e diretores, nos chamava de volta para a novelinha.

O vício foi tal que depois de termos vencido as dezoito temporadas, eu sonhei que encontrava a Chandra Wilson, a eterna Dra. Bailey. Contava para ela o meu feito, ela me parabenizava e garantia que esse era de fato um recorde. O legal é que no meu sonho ela nem transparecia certa ironia, com a cena da maluca que encontra uma desconhecida e diz: Oh, so good to see you! Can you believe my husband and I watched all eighteen seasons of Grey’s Abatomy in only one year? Eu sonho maluco, mas falo com a atriz americana em inglês. Há de se ter alguma noção.

Depois desse grande feito me sinto quase vazia. O que faço agora quando me deito? Cadê os dramas de Meredith? Quando ela vai quase morrer, sofrer loucamente de novo e ainda assim parecer ter uma vida divertida? Cadê aqueles três filhos dela, que às vezes eu me pergunto se eles vivem eternamente na creche do hospital, ou agora que estão grande tem uma baba escravizada que cuida deles vinte e quatro horas por dia e esqueceram de citar o personagem na série?

Me faz falta, mas, por outro lado, posso voltar a ser uma pessoa alfabetizada que lê antes de dormir, porque assistir três, quatro capítulos de cinquenta minutos e depois ler é difícil. Na primeira ou segunda página o olho já começa a ficar pesado. Eu sei que a décima nona temporada já tá rolando nos EUA, mas aqui ainda não tenho acesso. É provável que eu veja, mesmo tendo consciência que Meredith sai de cena e pensando que alguém deveria chamar Shonda num cantinho e dizer: “Acabou, amiga!” Talvez, pudesse reiniciar como “Who’s Anatomy” pra fazer mais sentido. Sim, assumo que viciei, assumo que adoro. Faço várias referências a série e em vários momentos pensei em largar o vício, mas não consegui. Meu nome é Malvina e hoje faz sete dias que não assisto Grey’s Anatomy”.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Fica bem 2023

A pontezinha do Sakae's

Rituais de final de ano