As duas listas de materiais que me assombram

 

Minha vida tem oscilado entre duas listas de materiais: materiais de construção e materiais escolares. Não tenho dinheiro para nenhum dos dois, mas preciso adquiri-los. Dou abanicos saudosos pra vontade de viajar, jantar fora e encaro os fatos. Uma obra no meio do caminho, que transforma minha casa em meia casa, tornando a vida familiar quase insustentável e um ano letivo que se inicia, assim sem pedir licença e me traz um misto de sentimentos. Se por um lado eu comemoro a ida das crianças pro colégio, por outro sinto um aperto no coração da minha conta bancária com os gastos que isso envolve.

Essa semana no mesmo dia senti duas apunhaladas fortes no bolso. A primeira foi de manhã quando o pedreiro me passou a lista de materiais que ainda faltam e não são os últimos. Depois de muita pesquisa conclui que todas as coisas baratinhas juntas, quando elas vem assim em bloco de carnaval, ficam caras. Mas vai fazer o que? Deixar a casa sem piso? Sem porta? Não, definitivamente não. Tem que dar um jeito de tirar o dinheiro, nem que seja da porção final do reto. O bolso se contorcia de dor e isso nem era meio dia.

No final da tarde fui fazer o que venho adiando há mais de um mês: comprar o material escolar. Minha pré adolescente queria, porque queria ir junto. Fiz ela jurar que escolheria as coisas mais baratas, ela jurou e obviamente não cumpriu o juramento. As compras começavam a ficar mais tensas do que o planejado. Ensaiávamos uma DR na papelaria quando ouvi uma outra mãe dizer para uma guriazinha:

-Minha filha pega essa caneta de glitter.

Me senti o ser materno mais horrível do mundo ao dizer vários nãos para coisas que eu sei pela minha experiência que não vale a pena comprar caro e perder depois de uma semana de uso. Respirei fundo, voltei a razão e não me deixei amolecer. Em dado momento minha pré adolescente dizia:

- Mas mãe o material escolar é meu!

E eu retrucava:

-E a conta bancaria é minha!

Ela insistia

- Tá bom, tá bom! Escolhe o que tu quiser! Escolhe a minha vida! (Sim, ela considerou negar um estojo de mais de cem reais uma escolha de destino de vida. de se ter saco com esses onze anos!)

E eu que não sei ficar quieta argumentava:

- Eu só tô escolhendo o destino das taxas que eu pago no banco.

Depois da cena na papelaria, concordamos, compramos materiais bonitos e que cabiam no não orçamento mensal familiar, porque ele passou a não existir devido a crise econômica brasileira, mundial e a obra que não acaba jamais. No fim das contas saímos felizes e satisfeitas.

O bom é que na vida tudo é aprendizado. Os que eu adquiri essa semana foram: não acreditar no prazo do pedreiro, eles definitivamente tem uma contagem de tempo diferente dos outros seres terrenos e não sair para comprar material escolar com seus filhos, os surpreenda, porque daí não tem mais volta. Mais ou menos que nem obra depois que começa, mas nesse caso o surpreendido é você.

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