Anti-idade

 

Às vésperas de completar 42 anos, olhei pro espelhos e me deparei com rugas. Não que elas tivessem surgido ali naquele exato momento, estão sendo cultivadas durante esse tempo todo da minha existência. Não sei se foi o aniversário, a época, os hormônios, as redes sociais, mas naquela manhã elas me pegaram de mau jeito.

Imediatamente marquei uma consulta com a dermatologista. Cheguei lá e a médica, que eu não conhecia e seguramente tinha uma década a menos que eu, perguntou o que tinha me levado a procurá-la. Obviamente que entre as rugas esbofetearem minha autoestima no espelho durante meu inferno astral e a hora agendada, eu já tinha elencado uma série de outros problemas dermo cosméticos que até então eu nunca tinha percebido. Comecei a desfilar meu rosário: me incomodam essas rugas em volta dos olhos, essa perto do lábio que parece que minha boca tá pra baixo, as olheiras, as olheiras estão péssimas, ah e quase me esqueci, mas tem uma pinta escura nas minhas costas que fico com medo de que seja câncer.

Ela primeiro examinou minha pinta. Me tranquilizou dizendo que não era câncer, nem nunca seria, e perdão a fútil vaidade momentânea, mas o que menos me preocupava era a pinta das costas, eu nem enxergo ela direito. Depois a moça pegou uma lupa e olhou meu rosto detalhadamente. Eu já estava ficando aflita pensando que se minhas rugas estavam assim, exibidas quando eu olho no espelho sem óculos, ela devia ter uma vista aérea do grand canyon com aquela lente de aumento.

Dra Sherlock Homes das rugas largou sua lupa de investigação e me deu o veredito: era preciso preencher tudo, inclusive as olheiras, mas com técnicas modernas de fio de não sei o que de não sei onde. Eu comentei com ela que além de enrugada eu também era desprovida de grande poder aquisitivo. A moça sensibilizada me indicou um departamento de cosmiatria que atendia pelo meu plano.

Saí de lá decidida a fazer o que fosse necessário. Liguei pro número que ela me passou, depois de tentar umas dez vezes dizer cosmiatria consegui agendar uma consulta pra dali dois meses em um horário completamente ruim pra mim, mas bora lá, tudo pra não virar a uva-passa do natal.

A consulta se aproximava e eu só me lembrava do meu tio que contou da amiga que colocou botox e quando ele a beijou teve a sensação que encostava os lábios em um sabonete. Isso ficou martelando na minha cabeça. Conscientemente esqueci a consulta. Mas não as rugas.

Fiz um vasta pesquisa na internet sobre cosméticos para amenizar linhas de expressão (que é a alcunha bonita para ruga). Me chamou muito a atenção o nome da maioria dos produtos: anti idade ou, a versão americanizada, anti age. Às vezes eu até queria não implicar com certas coisas, mas por que anti idade? Isso, então, indica que é contra idade. Tipo anti inflamatório, contra inflamação, anti biótico contra bactéria, anti rábica contra raiva. É isso mesmo? Idade precisa ser combatida? Diga-se de passagem com um negócio que não vai combater, porque nem o melhor botox, nem o melhor creme altera a data de nascimento de ninguém. Podem até amenizar as linhas de expressão, mas não te colocam de volta nos teus 20 anos e que bom. Você é fruto do que você viveu. As linhas de expressão da alma por sorte não podem ser apagada.

Bom, em relação ao que eu fiz com as minhas rugas que talvez nem sejam o relevo do grand canyon só tenham parecido ser em um momento meio down (que é outra coisa que todo mundo tem)? Esqueci delas? Claro, que não! Sucumbi a indústria dermo cosmética, comprei um booster anti-idade, que não chamo assim, porque acho esse nome o óh, e sigo com elas. Tem dias que eu nem as vejo, tem outros que elas parecem me abanar e assim fazem de mim reflexo de uma sociedade que não vê com bons olhos o envelhecimento feminino.

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