Onde minha esperança mora

 

Oi pras flores! Bom dia pro sol! Que saudade de você chuva! Sorrisos pros vizinhos, até pros fascistas. Faço as unhas e uma senhora me diz: o que será de nós daqui pra frente? Sorrio com cara de paisagem, como quem não entendeu a colocação. Nada altera meu estado de espírito. Assim foi a primeira semana de 2023.

Isso tem nome e chama esperança, otimismo. Há seis anos não começávamos o ano com esperança. Minha filha mais moça nem sabe o que é ter pais esperançosos. Está acostumada com nossa versão: Não creio!!! Mais essa!!! Ela desconhece o Estado de bem-estar social, só conviveu com o de mal-estar. Pensa que gente pedindo dinheiro nas esquinas é normal.

Ver no dia primeiro Lula ser empossado, foi revitalizador. Vê-lo subindo a rampa acompanhado de representantes do povo foi emocionante, em um país que vinha negando sistematicamente direito ao povo, ao diverso.

Estou esperançosa, mas não iludida. Sei que Lula não é santo milagreiro. É um ícone que conseguiu reunir forças, que foi capaz de conciliar ideias. Ele estampa a civilidade em relação a barbárie, mas pega um Brasil muito mais fraturado do que aquele que encontrou em seu primeiro mandato.

Minha esperança não mora nele como se fosse super herói que chegou lá e do dia para noite resolverá nossos problemas, mas sim no que ele representa. Sei que o trabalho será árduo em terra arrasada. Como se o país inteiro tivesse passado por um grande desastre. Como o que realmente passou.

Minha esperança tá no Alckimin, que retrata meus amigos conservadores, mas não bestiais. Na Simone Tebet, que representa minhas amigas centrão, mas jamais desumanas. Na Gleise Hoffmann que no primeiro dia do governo de transição quando foi falar com os jornalistas, depois de se atrasar alguns minutos e se posicionar para as perguntas em porta diferente do que havia sido anunciado, disse: primeiro eu gostaria de pedir desculpas a vocês por essa troca de lugar na última hora. Na Dilma, auxiliando o Sarney a sentar. No discurso do ministro dos Direitos Humanos, Sílvio Almeida. Na recriação do Ministério da Cultura. Minha esperança reside na educação, na gentileza, no respeito e na cordialidade. Onde ideias são debatidas sem precisar de palavrões para serem expressas. Onde pessoas não parecem metralhadoras giratórias quando se manifestam. Onde há compreensão da realidade e não é necessário criar uma realidade paralela, inventada e alicerçada em notícias falsas para se ter poder. Minha esperança mora nos gritos de “Sem anistia!” que podiam ser ouvidos em alto e bom tom durante a cerimônia de posse. Bem ali, minha esperança faz morada.

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