Retrospectiva

 

Uma das coisas que eu gosto nessa época do ano, são as retrospectivas. Ou gostava. Na TV é aquele festival de tragédia, com pingos de compaixão e gentileza pra dizer que o ano nem foi assim tão péssimo. Adoro a do spotify, que nos mostra tudo o que ouvimos durante o ano. Embora totalmente clichê gosto de compartilhar nos stories do instagram. Fazer propaganda gratuita pro app e ainda me sentir um ser de extremo bom gosto. No entanto, esse ano estou impossibilitada de dividir com meus parcos seguidores do mundo virtual minha retrospectiva spotifyniana. Não vai dar para me gabar e expor um pouco mais de mim.

Fui toda feliz no app ver meu retrospecto de 2022 e descubro que no meu top 5 das músicas mais ouvidas está nada mais, nada menos que “Boyfriend” by Justin Bieber. Primeiro momento um choque! Cadê Marisa Monte, Blitz, Caetano, Gal, Areosmith, Beatlles, Amy??? Como Justin Bieber veio parar aí? Esse app deve estar completamente doido. Como chegamos nisso? E aos poucos começo a me dar conta que meu algoritimo começou a ser colonizado há mais de dez anos, quando minha filha nasceu. Foi mudando assim de mansinho, primeiro me mostrando anúncio de fraldas, depois de roupas infantis e quando vejo tá lá dominando o meu spotify.

Me recuperava do assombro da retrospectiva das músicas, quando chegou a dos podcasts mais ouvidos e mais uma decepção. Não estava no meu top 5 o meu próprio podcast. Que tipo de pessoa sou eu que, junto com uma amiga, crio, produzo um negócio e não ouço? Mas daí pensei e repensei que eu ouvi sim, várias vezes, mas não no Spotify. Tenho o habito de ouvir a gravação, geralmente, no app que montamos o podcast, ou seja, não computo audiência pra mim mesma. Deve ser a síndrome da impostora me sabotando, não é possível! Importante destacar que entre os podcasts, os três mais ouvidos por “mim” foram: Fafa Conta, Conta pra Mim e Mana Banana, provando que “eu” sou um combo familiar.

Dito isso sobre essa retrospectiva que já causou até certo orgulho do meu próprio intelecto, naquela época não tão, tão distante em que eu era um indivíduo e não um coletivo devo alertar que se em algum momento eu perder meu celular ou deixar a minha conta de spotify aberta, por favor, não tente ouvir “descobertas da semana”. O meu algorítimo não é confiável, está completamente contaminado. Contaminado de amor, carinho e invasão de espaço, mas ainda assim contaminado.

Fecho o ano não compartilhando minha retrospectiva do Spotify, porque para isso precisaria ter um daqueles perfis piegas familiares. Dando vivas porque não tem uma retrospectiva do ifood, elucidando quanta junk food eu pedi, ainda posso fingir que sou saudável, e nem da Amazon mostrando o quanto eu gastei, provavelmente um valor exorbitante pra mim, ser humano terreno, e ínfimo pra Jeff Bezos aquele que poderá colonizar e viver em marte quando a terra não tiver mais condições, deixando o planeta arrasado apenas pra nós, escravos do sistema.

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