O filme da semana
Acompanhei a apuração com o c* na mão e a certeza no coração. Acompanhei em família, com medo do menor movimento estragar o feng shui ocasional, espontâneo, produzido pela bagunça familiar e, assim, atrasar ou adiantar a virada, que era certa, mas com algum grau de incerteza. Quando Lula virou, respirei aliviada, abri o espumante e pedi a pizza.
As crianças, porque são as nossas e são educadas para a política, a civilidade e o mundo, assistiram tudo conosco, percebendo a tensão no ar e a importância do momento histórico que vivenciavam. Quando foi declarada a vitória, não me contive, fui no pátio e gritei. Berros de alívio que buscavam encontram berros vizinhos que me dissessem “Tamo junto companheira!” As pequenas saíram e também gritaram. Foi melhor e mais animado que o reveillon do ano passado.
A pizza chegou, meu marido recebeu o motoboy que sorriu para os nossos gritos. Que bom! Ou pensou que fossemos completamente malucos. Mas os vizinhos também gritavam endossando nossa doideira: “Lula!Lula!” Porque afinal sonoramente Lula é um nome pra gritar. Daqueles que pede um berro que pode ser de chamado “Luuuuuulaaaa!!!!”, ou de comemoração “Lulaaaaaaaaaa!!!” Fui dormir com energia recuperada, com discurso renovado, com a alma lavada, mas apreensiva.
No dia seguinte acordei já com as esperadas notícias do surto bovino coletivo, que mugia contra a democracia, se alimentava de pasto de fakenews e teoria da conspiração. Dia desgastante para o espectador que não tá fazendo história, mas quer saber o final dela logo.
Ansiedade produzindo suco gástrico até dizer chega, bateu final de tarde fui buscar minha filha mais moça na escolinha. Aquela lindinha que frequenta o jardim A e ela me disse:
Mamãe! Ontem a fulaninha também viu o mesmo filme que nós!
E eu atordoada pela situação nacional, pela azia, pela ansiedade, não entendi e perguntei:
Que filme?
Ela prontamente respondeu, fazendo L com as mãozinhas gorduchas:
Aquele do Lula! Daí nós dançamos e cantamos na sala de aula “O Lula ganhou! O Lula ganhou!”
Me divertindo com o assunto, dei continuidade ao diálogo:
Quem mais dançou com vocês?
A Beltraninha também cantou e dançou. Nós nos divertimos muito!
Três lindas menininhas de cinco anos, que do jeito delas, assistiram e entenderam o que aconteceu no “filme”. Pena ter uma significativa parte da população em surto coletivo à lá Cássia Kiss interpretando a Regina Duarte, que assistiram a mesma coisa e não entenderam a moral da história.
Comentários
Postar um comentário