Deixando de lado preconceitos (e um pouco da dignidade também)
Agora que já estou desapegando da angústia dos últimos meses e descobrindo que eu tinha medo de palhaço. Não que eu não soubesse que tinha medo, eu só não sabia que era de palhaço com figurino verde e amarelo. Começo a me sentir mais confortável para falar sobre assuntos mais amenos, que embora mais suaves, ainda impactam meu cérebro, meu coração e meu corpo.
Estou fazendo dieta acompanhada por uma nutricionista faz uns quatro meses. Na última consulta ela me propôs, considerando que eu faço musculação de segunda a sexta, incorporar à minha dieta whey protein e creatina. Num primeiro momento achei a proposta totalmente descabida, mas resolvi me despir dos meus preconceitos pseudointelectuais e experimentar pra ver o que acontece.
Fui pesquisar pra comprar os produtos e minha primeira grande descoberta foi os milhares de sabores de whey protein que existem. Fiquei na dúvida entre o de cookies and cream e o de churros. Acabei optando pelo de churros que tava na promoção, pois o negócio não é barato e eu sou viciada em desconto. Enquanto esperava meus suplementos comprados no Mercado Livre, que me fariam adentrar em parte do estranho mundo das pessoas que fazem exercício de top e usam rabo de cavalo no topo da cabeça propositalmente caído pro lado, fazendo de conta que foi sem querer, contei para uma amiga muito próxima das minhas compras. Ela riu e disse: Sabe que eu vou te julgar, né? Respondi que ficasse bem à vontade, afinal eu já estava me julgando horrores.
Minhas encomendas podiam chegar entre a quarta e a segunda feira seguinte. No domingo eu descobri o primeiro grande efeito que esses suplementos produzem em nossas vidas: nos fazem acordar cedo quando não precisamos. Eram oito horas em ponto quando o entregador gritou no portão: Entregaaaaa!!!
Acordei de supetão, enfiei os tênis do meu marido que foi o único que eu encontrei pelo caminho e cheguei no portão de pijama, descabelada, com a cara amassada. Quando vi o moço pensei: Meu whey e minha creatina! Porra gente, domingo de manhã cedo?! Mas isso é a cara de um whey, combina com a personalidade dele esse comportamento.
O trabalhador precarizado que fazia a entrega parecia estar com tanto sono quanto eu, me entregou o pacote, anotou meu RG e me deu tchau. Quando ele já entrava no carro e começava a ligar o motor me dei conta que o pacote que eu tinha em mãos não podia conter um pote com 900 gr de whey protein e outro com não sei quantas gramas de creatina. O conteúdo da embalagem era fofo parecido com uma roupa, talvez algo de moletom. Olhei no selo que contém o nome do destinatário e definitivamente aquele não era meu nome, nem meu endereço. Gritei pro moço que dava partida no carro e não me ouvia. Em um ato desesperado saí do portão, de pijama, com a cara amassada e calçando os tênis tamanho 43. Corri atrás do carro balançando os braços e consequentemente os peitos sem sutiã sob a camiseta, gritando: Moço, moço, esse pacote não é meu! Por sorte, não só os vizinhos me viram, o entregador parou e destrocou os pacotes.
Devo confessar que estou impressionada até agora com a capacidade que esses suplementos têm de acordar a gente cedo e nos obrigar a fazer exercício até mesmo antes de serem consumidos.
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