Apenas torcendo
No dia das crianças minha filha ganhou da escolinha uma camiseta do uniforme nas cores verde e amarela. Veja bem, 12 de outubro de 2022, eu honestamente não tinha muita certeza do que aquilo significava e resolvi me apegar a ideia que era para ser usada na copa do mundo e não às vésperas das eleições. A questão é que as coisas tomaram uma dimensão tão doida nesse país, que evitamos as cores nacionais com medo de ser confundidos com destrambelhados que pedem intervenção extraterrestre com sinais de luz na cabeça em pleno centro da capital gaúcha. Por isso guardei a tal camiseta e ela nunca usou.
Eu não acho que alguém vai pensar que uma criança de cinco anos tem alguma simpatia por algum candidato, ou qualquer coisa assim, mas tenho medo que me confundam com um desses malucos. Criança dessa idade é um retrato dos pais, veste o que a gente escolhe para eles. Por exemplo, minha filha não usa cropped, nem sapato que tenha algum tipo de saltinho, porque eu não acho adequado para uma criança tão pequena. Se ela usasse, isso diria muito sobre mim, assim como ela não usar diz muito sobre mim.
Essa semana iniciou a copa do mundo e recebi uma mensagem da escola pedindo que as crianças fossem vestidas com a tal camiseta verde e amarela nos dias de jogos da seleção brasileira para torcerem juntos. E daí se instalou em mim um dilema: se não mando com a camiseta, ela pode ser a única sem. Também acho que é preciso resgatar as cores nacionais que não são propriedades de um grupo de fanáticos. Por outro lado e se eu mando a cria toda trabalhada nas cores da seleção canarinho e preciso passar em algum lugar com ela a tiracolo podem pensar que eu sou o tipo de pessoa que faz criança de escudo humano em protestos anti-democráticos?! O que fazer?
Poderia entregar ela na escola com um casaco fechado, mas anda fazendo muito calor para isso. Eis que tive a ideia de customizar a camiseta. Fui a um bazar comprei caneta para tecido e cola com glitter, me muni de todos os meus dotes artísticos que não são muitos, mas quebram o galho e enfeitei a peça verde e amarela com o nome da minha filha e o número da sorte do Zagallo. Tudo lindamente feito em vermelho brilhante, porque combina muito com essa época de final de ano, de natal. Modéstia a parte, ficou linda! As professoras não confundirão a camiseta da minha pitoca com a dos coleguinhas, a pequena se sentiu especial e eu aliviada, por não ser confundida com alguém que se ajoelha, reza em frente a quartéis, pede intervenção militar, aplaude caminhão de leite condensado e viagra achando que é fuzil.
Agora é só torcer! Torcer pro Richarlison que não deve nada pra Receita Federal, que defende vacina, que apertou 13. Torcer pro Tite que já disse que não irá a Brasília nem ganhando, nem perdendo. Torcer pelo que e por quem vale a pena!
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